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Delito de Opinião

Resistência em alemão (15)

Cristina Torrão, 08.07.23

Max Joseph Metzger

Padre Max Josef Metzger 1.jpg

Imagem daqui

Este padre alemão foi executado pelo regime nazi por ser… pacifista!

Max Josef Metzger nasceu a 3 de Fevereiro de 1887, em Schopfheim, no Sul da Alemanha, filho de um professor de liceu e de uma dona de casa. Foi ordenado padre em 1911 e, nos dois primeiros anos da 1.ª Guerra Mundial, exerceu as funções de capelão militar junto dos soldados alemães, na frente francesa. Esta experiência levou-o a fundar, em 1917, um movimento católico pacifista, sob a égide “da Cruz Branca”.

Seguiram-se várias iniciativas e intervenções, tendo sempre em vista a paz mundial. Em 1918, publicou o manifesto “Paz na Terra” (Frieden auf Erden) e, em 1921, foi o primeiro alemão a discursar no Congresso Internacional da Paz, em Paris. Em 1938, fundou a Irmandade Una Sancta, um movimento ecuménico que pretendia juntar católicos e protestantes. Além disso, era um entusiasta do projecto da língua universal esperanto, no qual trabalhou afincadamente.

Padre Max Josef Metzger Esperanto.jpg

Da página alemã de livros sobre e em esperanto

Em 1932, Max Josef Metzger escreveu ao Papa Pio XI, alertando-o para o novo escalar belicista e pedindo-lhe que interviesse, a fim de ser evitada uma nova guerra mundial. E, em 1933, poucos meses depois da tomada do poder por Hitler, escreveu novo manifesto. Defendia ser o dever da Igreja fazer forte oposição ao regime, mas, não tendo aquela possibilidades de derrubar este, considerava mais vantajoso uma “cooperação construtiva” (konstruktive Zusammenarbeit), facultando à Igreja a oportunidade de se manter a par das medidas nazis, tentando impedir “o pior”. Na sequência deste escrito, Metzger tornou-se alvo da vigilância da Gestapo.

Depois de duas curtas passagens pela prisão (entre 24 e 26 de Janeiro de 1934 e 9 de Novembro e 4 de Dezembro de 1939) foi definitivamente preso a 29 de Junho de 1943, traído por uma funcionária da Gestapo, infiltrada na Irmandade Una Sancta. Dagmar Imgart tinha nacionalidade sueca e era autorizada a deslocar-se àquele país, mesmo durante a guerra, para visitar os seus familiares. A certa altura, Metzger confiou-lhe um memorando, onde propunha estruturas democráticas a aplicar na Alemanha, depois da derrota do nazismo. Dagmar Imgart deveria entregar esse memorando ao arcebispo luterano de Uppsala, Erling Eiden, que mantinha relações com o pastor luterano alemão Dietrich Bonhoeffer (outro membro da resistência ao nazismo, que já surgiu nesta série).

O memorando caiu directamente nas mãos da Gestapo e Metzger foi preso, em Berlim, ficando na cadeia de Plötzensee. A 14 de Outubro de 1943, o temido juiz Roland Freisler (talvez o mais conhecido juiz do regime nazi e já por várias vezes aqui referido) condenou-o à morte, num julgamento que durou pouco mais de uma hora. Nesse dia, Freisler já tinha proferido mais três dessas sentenças. No julgamento, foram citadas várias passagens do manifesto “Paz na Terra” (Frieden auf Erden), de 1918, a fim de se provar a alta traição do réu, assim como a sua preferência pelo inimigo. Freisler recusou-se a ouvir o que ele teria a dizer em sua defesa, alegando ser-lhe insuportável ouvir as “tiradas políticas do Dr. Metzger”. E declarou ser seu dever exterminar tal “úlcera pestilenta” (Pestbeule).

Max Josef Metzger foi transferido para a prisão Brandenburg-Görden e passou a usar algemas durante todo o tempo. Mesmo assim, escreveu muitas cartas, poemas e pensamentos teológicos e compôs algumas canções. Assim passou cerca de seis meses, até ser executado pela guilhotina, a 17 de Abril de 1944. Max Josef Metzger só foi avisado da sua execução duas horas antes e, durante esse tempo, escreveu mais cartas, declarando ser o seu sacrifício “pela paz no mundo e a unidade da Igreja” (für den Frieden der Welt und die Einheit der Kirche).

Metzger foi incluído no Martirológio alemão do século XX e, em 1994, a Praça Courbière, em Berlim, foi rebaptizada Praça Max Josef Metzger. A 8 de Maio de 2006, iniciou-se o seu processo de beatificação, na arquidiocese de Freiburg/Breisgau.

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Esta imagem mostra a pedra evocativa, descerrada por ocasião da mudança de nome da praça berlinense. Do lado esquerdo, lê-se a inscrição: Ich habe Gott mein Leben angeboten für den Frieden der Welt (Ofereci a minha vida a Deus pela Paz no Mundo).

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