Resistência em alemão (14)
Joseph Müller
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O padre Joseph Müller nasceu a 19 de Agosto de 1894, em Salmünster, no estado de Hessen. O seu pai era tocador de órgão na igreja, criando nos filhos, desde cedo, uma forte ligação ao Catolicismo. Não só Joseph, mas também dois dos seus seis irmãos se tornaram padres.
Joseph Müller alistou-se voluntariamente na 1.ª Guerra Mundial e foi gravemente ferido, ficando com problemas de saúde durante toda a vida. Formou-se no Seminário de Hildesheim, cidade onde foi ordenado padre a 11 de Março de 1922, juntamente com um dos irmãos. Via com receio o ascender do Nacional-Socialismo (ou Nazismo) e não se coibia de o proferir, tanto nas suas homilias, como em eventos onde discursava.
Esta sua intervenção social e política não abrandou, depois de Hitler tomar o poder. Tentava, sobretudo, impedir os jovens de se deixarem influenciar pelo Führer. Na pequena cidade de Heiningen, onde foi padre, organizou ainda o protesto das famílias contra a decisão dos nazis de fecharem a escola católica.
Em 1943, tornou-se padre numa outra pequena cidade, Groß Düngen, e, apesar de se saber vigiado pela Gestapo, transmitiu ao representante do Partido Nazi dessa comunidade a sua preocupação pelo rumo tomado pela Alemanha. Acabou por ser preso a 6 de Setembro de 1943, a pretexto de uma anedota que terá contado por ocasião de uma visita feita ao pai desse político. Considerou-se ele ter comparado Hitler e Göring aos dois bandidos que foram crucificados junto com Jesus Cristo. A anedota era a seguinte:
Um soldado ferido, no seu leito de morte, perguntou à enfermeira se o Führer não o poderia visitar, já que morria precisamente por ele e pelo povo. A enfermeira respondeu-lhe tal não ser possível, mas trar-lhe-ia uma fotografia dele, se fosse seu desejo. O soldado assentiu e pediu-lhe que colocasse a fotografia do seu lado direito. Como ele pertencia à Luftwaffe (Força Aérea), a enfermeira trouxe-lhe também uma fotografia de Göring e pô-la do seu lado esquerdo. O soldado disse, então: «Agora, morro como Cristo».
Devido à sua saúde precária, porém, Joseph Müller acabou por ser libertado pouco tempo depois. Mas os representantes do Partido Nazi de Groß Düngen apelaram ao Tribunal do Povo de Berlim e o ele foi novamente preso, a 11 de Maio de 1944, sendo transferido para Berlim no dia 15, a fim de ser interrogado. Da prisão, Joseph Müller escreveu ao seu bispo, Joseph Godehard Machens. Destaco estes excertos (tradução minha):
«Percorrerei, junto com Cristo, (…) o caminho do sofrimento e da oração. Seja qual for o trajecto que Deus me reserva, não me queixarei (...) Agora sou eu quem precisa do apoio vindo das Alturas. Sei que não me faltará». Porém, quando o bispo e alguns outros colegas seus o visitaram, duas semanas mais tarde, disseram ter encontrado «um pobre prisioneiro, de roupa remendada e num estado psicológico bastante miserável».
Joseph Müller com Bispo de Hildesheim, Joseph Godehard Machens
No julgamento, a 28 de Julho de 1944, o temido juiz nazi Roland Freisler, presidente do Tribunal do Povo de Berlim, recusou ouvir as testemunhas de defesa que se haviam deslocado à capital para o efeito e acusou o “padreco” (Pfaffe, como lhe chamou) de alta traição, sabotagem e negação da autoridade estatal, ao tentar cavar um fosso entre a juventude, da qual era mentor, e o Führer. Condenou-o à morte, pela guilhotina, execução levada a cabo a 11 de Setembro de 1944.
Apesar das palavras dos colegas que o tinham visitado, Joseph Müller pareceu ganhar coragem, à medida que a data da sua execução se aproximava. Nas suas palavras, a sua morte era, naquele momento, mais valiosa para o Reino de Deus do que a sua vida. E, apenas uma hora antes de ser executado, escreveu à sua família, aos amigos e aos fiéis de Groß Düngen: «O meu coração transborda de alegria, pois vou regressar ao Pai. Daqui a uma hora, estarei em casa, deixando-vos nesta vida terrena (…), [mas tal] não nos pode afastar do amor de Cristo».
Em 1999, Joseph Müller foi incluído no Martirológio alemão do século XX.