Resistência em alemão (13)
Engelmar Unzeitig
O padre Engelmar Unzeitig (batizado Helmut Unzeitig) nasceu a 1 de Março de 1911, em Hradec nad Svitavou, hoje território da Chéquia. A sua família de lavradores pertencia aos Sudetas (cidadãos falantes da língua alemã).
O seu pai morreu de tifo, prisioneiro dos russos na 1ª Guerra Mundial, deixando a viúva com seis filhos, e Helmut Unzeitig teve de começar a trabalhar cedo na quinta da família. Desejava, porém, tornar-se missionário e, com 17 anos, deslocou-se à Baviera, a fim de ingressar na Ordem Mariannhill (Congregatio Missionarium de Mariannhill), vocacionada para o missionarismo em África. Adoptou o nome de um santo bávaro do século XI (Engelmar), aprendeu línguas estrangeiras e conseguiu concluir o liceu, já com 23 anos.
Depois de estudar Teologia e Filosofia, em Würzburg, foi ordenado padre em 1939, mas o rebentar da guerra impediu-o de ir em missão para o estrangeiro. Esteve numa dependência da Ordem em Riedegg (Áustria), onde deu apoio espiritual a prisioneiros franceses, apesar de ser proibido. Regressou à Boémia em Outubro de 1940, a fim de tomar conta da paróquia de Český Krumlov.
A 21 de Abril de 1941, foi preso pela Gestapo, na sequência de denúncias da Juventude Hitleriana, por “discurso traiçoeiro e defesa dos judeus” nas suas homilias e aulas de religião. Esteve seis semanas detido preventivamente em Linz, sem ser ouvido em Tribunal, sendo, em seguida, enviado para o campo de concentração de Dachau, na Baviera.
Por ordens do próprio Heinrich Himmler, chefe da SS, tinha sido organizado, neste campo de concentração, o “bloco dos padres” (Pfarrerblock), por onde passaram 2720 sacerdotes, católicos na sua esmagadora maioria (cerca de 95%). A Gestapo mostrava todo o seu desprezo por eles, chamando-lhes “padrecos porcos” (Saupfaffen) e reservando-lhes torturas e humilhações especiais. Na Sexta-Feira Santa de 1940, por exemplo, resolveu inventar uma "crucificação". Pendurou sessenta sacerdotes em árvores, pelas mãos, depois de lhas terem prendido atrás das costas. Assim ficaram os padres durante uma hora, com os pés a poucos centímetros do chão. Nem todos sobreviveram.
Como já aqui referi, Jean Bernard, um sacerdote luxemburguês, que esteve igualmente preso em Dachau, publicou, em 2004, as suas vivências num livro, a partir do qual Volker Schlöndorff realizou um filme. Também um, ou uma comentadora (não se quis identificar) aqui do Delito me indicou o livro La Baraque des Prêtres, escrito por um jornalista francês sobre o “bloco dos padres” em Dachau.
Pelo campo de concentração de Dachau passaram mais de 200.000 prisioneiros, de quarenta países. Em Novembro de 1944, rebentou uma epidemia de tifo e Engelmar Unzeitig ofereceu-se voluntariamente para tratar dos doentes.
Nas barracas do tifo, os infectados não dispunham de colchões, nem de roupa de cama. Gritavam de dores, rebolando-se nos próprios excrementos, sobre as tábuas de madeira, num frio gélido. Os trapos que os envolviam estavam cheios de pulgas e piolhos. Segundo o testemunho de um sobrevivente, os tratadores limpavam os catres o melhor que podiam, lavavam os corpos esqueléticos sujos e suados e juntavam os trapos para os queimar. O padre Engelmar Unzeitig tentava ainda dar algum consolo espiritual aos doentes desesperados e conferia a extrema unção aos moribundos. Também impedia outros prisioneiros de morrerem à fome, dando-lhes os alimentos que os familiares lhe enviavam. No meio de toda a miséria, não perdia o ânimo. Na última carta que escreveu à família, reforçou a sua crença na imortalidade do Bem. A sua frase mais conhecida é: «O amor duplica as forças, liberta-nos interiormente e alegra-nos» (Liebe verdoppelt die Kräfte, sie macht innerlich frei und froh).
Não ficou imune à doença. Morreu de tifo (tal como o pai), a 2 de Março de 1945, um dia depois de completar os 34 anos. Os sobreviventes do campo de concentração que o conheceram chamavam-lhe o anjo de Dachau (Engel von Dachau).
Foi beatificado pelo Papa Francisco em 2016.