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Delito de Opinião

Resistência

Luís Naves, 22.11.18

Portugal sempre foi um país resistente à mudança. No passado, a nossa sociedade provinciana foi lenta a adoptar as novidades. Havia desconfiança em relação ao que vinha de fora, mas a resistência tem limites. Talvez isto explique que as transformações portuguesas acabem frequentemente por acontecer através de processos súbitos, quando rebenta a panela de pressão da impaciência popular. Hoje, com a internet, resistir é mais difícil. Por estes anos, as sociedades industrializadas entram num novo ciclo, provavelmente marcado pelo pragmatismo nas relações internacionais, mais ideologia e crispação, recuo do controlo sufocante do sistema financeiro, o regresso das nações e a reformulação das políticas sociais. Acabou o consenso entre centro-direita e centro-esquerda que definiu os contornos da actual União Europeia e começa outra coisa, muito mais dividida e tribal. Ora, qual é o país que mais resiste a esta fragmentação, tão visível na Europa? O nosso, com o seu sistema enviesado à esquerda desde 1975, a sua comunicação social domesticada e um partido de poder que, tendo perdido as eleições em 2015, com apenas 32%, parece não ter rival nem precisar de alianças para um futuro cheio de nuvens negras.

5 comentários

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    Luís Naves 22.11.2018

    Isto é de facto um país que lidera o pensamento, pena que também tenha sido o último império europeu, quase teocracia até meados do século XIX, um dos últimos escravocratas, país reconhecido pelos seu atraso crónico e aguda falta de ideias. Quanto ao actual regime, só se pode dizer que está na mesma, como a lesma: 45 anos de democracia com três estoiros, média de uma bancarrota por cada 15 anos, modelo que notoriamente não funciona, mas que se mantém lindamente, muito parecido com o regime da monarquia constitucional, que colapsou naquela brilhante república que conduziu o país a um caos absoluto de 16 anos, incluindo uma guerra mundial onde desembarcámos com atraso, em 1917.
    O recuo da obsessão financeira da economia mundial é uma mera possibilidade, movida pela tecnologia. Quanto ao mundo em que eu vivo, julgo que não será de facto o seu.

    O partido no poder perdeu as eleições; teve 32%, governa em minoria, é a segunda menor votação num partido de poder na Europa. As gerigonças são mecanismos pseudo-democráticos, farsas políticas, perigosas para o país, mas essa é apenas uma opinião minha.
    Quanto ao mafarrico, esteja descansado, que ele virá, mais tarde ou mais cedo, infelizmente, como chegou em 2011, na bancarrota que a geringonça jura nunca ter existido.
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    jo 22.11.2018

    Tem de rever o estudo da lógica. A refutação da frase "país resistente à mudança" não é a afirmação que é o "país que lidera o pensamento". Fiz notar somente que a resistência à mudança não é um absoluto constante na história nacional, logo não pode ser usada como argumento.
    Levamos quase tantos anos de democracia como levámos de ditadura. Do ponto de vista do défice talvez seja preferível a ditadura, mas como dizia o outro: há muita vida para além do défice.

    Não compreendi que o seu texto considerava o recuo da obsessão financeira como uma mera possibilidade, então nos seus argumentos já tem uma premissa falsa e uma que não é certa.

    Se o partido no poder perdeu as eleições, concorreu contra alguém e esse alguém ganhou. Devem ser os maiores aselhas do mundo os que ganham as eleições e não conseguem formar governo, ou então houve um golpe militar e ninguém sabe.

    Dizer que o Mafarrico virá é o mesmo que dizer a alguém que vai morrer: mais tarde ou mais cedo a profecia torna-se realidade, mas assim todos acertam. O facto é que o dito cujo não tem respondido aos conjuros nem ligado aos nossos xamãs da alta finança..
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    Luís Naves 22.11.2018

    Agora vem com os argumentos lógicos, como se constatar o atraso do país e a sua dificuldade em mudar fosse uma questão de lógica. Esta conversa é típica do nosso atraso, pura retórica, como quando refere a 'premissa falsa e uma que não é certa', quando queria dizer 'uma premissa verdadeira e outra que pode tornar-se verdadeira'. O seu comentário é um exemplo típico da nossa resistência a tudo o que não seja conformismo, por exemplo, quando acha que o atraso não é possível em democracia 'levamos quase tantos anos de democracia como levámos de ditadura', como se a nossa democracia fosse alguma coisa de exemplar, que nunca foi, pelo contrário, teve amplos episódios de alucinação, incompetência e parvoíce. O nosso atraso é possível em democracia, continuou em democracia e existe hoje, neste mesmo dia, como comprovam as cenas macabras de uma pedreira alentejana. A profecia do mafarrico não é profecia, mas realidade. Três bancarrotas confirmadas e da quarta não escapamos, tal é a impossibilidade de se fazer uma única reforma digna do nome. Convencido de que está tudo no reino das maravilhas, o comentador insiste na tese da vitória eleitoral (nada contra, pode ter essa ideia), mas fica em silêncio em relação ao argumento central: somos governados por um partido que teve 32% dos votos, o que constitui o governo com a menor proporção eleitoral da Europa (tirando a Espanha). E, no entanto, este governo minoritário, sem base sociológica, levado ao colo por uma comunicação social disciplinada, não tem rivais. Se isto é uma democracia modelo, batatas para a lógica.
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    jo 23.11.2018

    Eu sei que a lógica é uma batata mas repare:
    Em qualquer conclusão devemos partir de premissas verdadeiras. As suas bastante mal fundamentadas, e dizer que não precisa de fundamentá-las porque são verdades evidentes não chega, a menos que estejam assinadas Deus, e com firma reconhecida.
    A ligação da democracia a pedreiras alentejanas escapa-me. No seu entender nas ditaduras as pedreiras não caem?
    A profecia do Dito Cujo dizia que ele chegaria em 2017 ou 2018, não chegou, mas vejo que continua a rezar por ele, a cada um a sua fé.
    Não basta dizer que já houve bancarrotas para definir um regime. Já tivemos um governo muito apreciado por banqueiros autocratas que nem por isso foi grande coisa do ponto de vista económico ou civilizacional.
    Desde o tempo do Paizinho das Botas nunca nenhum partido teve mais de 50% dos votos. É um inconveniente das democracias que as ditaduras não têm: nunca conseguem os noventa e tal por cento do Grande Líder. Isto de as pessoas terem opiniões próprias todas diferentes é uma chatice. Tanto mais quando há tanta gente capaz para pensar por todos.
    Que é a base sociológica e como se define?
    Pergunta-se aos primos e amigos?
    Ou tiramos tudo da nossa cabecinha?
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