Relato de uma noite no inferno
Dezasseis de Outubro de 2017. Deixei o Dinis na Almirante Reis à uma da manhã. Tive de o trazer de Braga de carro porque hoje tem pela manhã a primeira frequência no Técnico e a circulação de comboios esteve várias horas interrompida. No sentido de Lisboa, a viagem foi um martírio: fogos por todo o lado, o ar está irrespirável, estradas cortadas, na A1 não se transita, a A17 também foi interrompida. Safei-me em Aveiro para a 109 em direcção à Figueira da Foz, segui por Ílhavo, Vagos, Cantanhede e cheguei a Coimbra sempre com chamas a rasgar a noite. Entro finalmente na A1. Há em vários pontos labaredas ao lado da estrada com 3, 4 metros de altura, faúlhas por todo o lado. Nestes sítios, só não foi cortada porque manifestamemente ainda não tinha ali chegado qualquer autoridade. Por alturas de Leiria, a Leonor liga-me. A dois passos de nossa casa estão moradias a arder. Um lar de idosos de Braga foi evacuado. Antes, uma amiga do Dinis tinha telefonado. Tem familiares na zona de Pedrógão. A aldeia onde vivem estava cercada pelo fogo. À uma de manhã inicio o regresso a Braga. Por alturas de Torres Novas a A1 estava cortada. Entrei na noite por Minde, Ourém, Fátima, Pombal. Sempre fogo, sempre mais fogo. Até chegar a Braga quase já de dia ainda ouvi a intervenção do primeiro-ministro na Protecção Civil umas três ou quatro vezes, a cada noticiário. Uma noite de inferno. Mas podem ficar descansados. No Terreiro do Paço não havia incêndios.