Regresso ao futuro do PREC.
No mês em que supostamente Marty McFly teria chegado ao futuro numa máquina do tempo (nós também chegámos e nem precisámos de máquina do tempo, só levámos mais trinta anos), sente-se cada vez mais o regresso ao PREC. Parece que de facto recuámos numa máquina do tempo quarenta anos e que 2015 é afinal 1975.
Voltámos ao velho tempo dos governos provisórios formados pelas vanguardas da classe operária que se estão nas tintas para os resultados eleitorais, e só almejam uma plataforma revolucionária. Vasco Gonçalves então proclamou que não poderia deixar que fossem perdidas em eleições as conquistas revolucionárias duramente obtidas pelo povo português. É assim que António Costa, que foi entrondosamente derrotado nas urnas, acha que pode afinal constituir um governo, só que será sempre um governo provisório, ainda mais fraco do que um governo de gestão.
Efectivamente, o PCP e o Bloco apenas garantiram ao PS um governo provisório de um ano, sendo manifesto que depois exigirão que seja feito o corte com a União Europeia, o euro, e proclamada a reestruturação da dívida. Só que, como numa espécie de futuro alternativo, em que Mário Soares teria sido derrotado por Vasco Gonçalves, o PS deixou de ser um partido do arco da governação e passou a ser o que na altura se ambicionava: o "verdadeiro partido socialista". É assim que António Costa está a considerar seriamente a hipótese de constituir um governo frentista, ainda que limitado a um ano, o qual transformará o PS num partido sem futuro, um mero compagnon de route do PCP e do BE, que rapidamente será atirado para o caixote do lixo da História, como Lenine fez aos mencheviques na Rússia.
O outro aspecto interessante destes tempos do PREC, é termos voltado a ouvir o inesquecível Arnaldo Matos, que já disse o que pensava de qualquer governo: "Qualquer que seja o governo que saia da Assembleia da República eleita no sufrágio do último domingo, seja da coligação Coelho/Portas, seja o do arco governativo Coelho/Portas e Costa, seja o governo de Costa com o apoio directo ou apenas parlamentar dos revisionistas do PCP ou das meninas oportunistas do Bloco, qualquer desses três governos é um governo da Europa Alemã, do capital germânico, da Tróica, de Ângela Merkel e de Schäuble, mas nunca um governo do povo português, nunca um governo ao serviço da classe operária e dos trabalhadores". Arnaldo Matos continua a ser o grande educador da classe operária e mostra de facto que as eleições só servem para pôr em causa o seu papel de vanguarda. Isto mesmo que respeitem a candidatos do seu próprio partido. Como ele de facto assume: "se alguns dos nossos candidatos fossem eleitos, eu emigrava…". Só faz lembrar aquele anarquista espanhol que proclamava: "Hay gobierno? Se hay, soy contra! Se non hay, también soy!".
Como é que terminará este novo futuro alternativo do PREC? É que isto não é um filme. É a sério.