Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Reflexões europeístas (5)

Pedro Correia, 16.05.14

 Ruínas do Templo de Delfos, no Monte Parnaso (Grécia central)

 

A Europa, tal como foi imaginada pelos seus pais fundadores, é inseparável de um projecto de crescimento e desenvolvimento, tanto no plano económico como no plano social e cultural.

O balanço da integração europeia também deve fazer-se a este nível: que qualidade de vida têm os cidadãos da União Europeia em comparação com quem habita outros pedaços do mundo?

 

A resposta bem fundamentada a esta questão é demolidora para as teses eurocépticas. Porque o balanço é incomparavelmente positivo para o Velho Continente nestas quase seis décadas de integração europeia.

Desde logo porque o espaço europeu é inseparável da democracia política. Portugal, Espanha e Grécia apenas receberam luz verde para ingressar na Comunidade Económica Europeia após a queda dos respectivos regimes ditatoriais. A mesma lógica aplicou-se aos países da Europa de Leste, que só começaram a libertar-se das ditaduras comunistas a partir de 1989.

Ter a democracia como senha de identidade comum a todos os Estados-membros confere uma irrefutável autoridade moral à União Europeia. Este é um património inestimável, que não pode ser desperdiçado ao sabor de ventos conjunturais. E que deve ser continuamente valorizado, nas palavas e nos actos dos protagonistas políticos deste espaço civilizacional herdeiro da pedagogia filosófica da Grécia clássica e do primado da lei posto em prática na Roma antiga.

 

A democracia não se esgota no plano político: tem repercussões inevitáveis em todos os domínios da actividade humana. E também neste aspecto a Europa tem motivos de genuíno orgulho no confronto com qualquer dos restantes fragmentos do globo.

Em que outro recanto do planeta existe tanta liberdade de expressão?

Em que outro continente há tanta criatividade e fruição artística?

Em que parcela do vasto mundo habitada pela espécie humana existe tanta liberdade de imprensa e tanto pluralismo político?

Onde haverá menos desigualdade social do que na velha e tolerante Europa?

Nenhum outro continente propicia o aparecimento de tantos poetas, cientistas, pensadores, filósofos, inventores, arquitectos, engenheiros, ambientalistas, génios de todo o género, profetas de todos os matizes.

 

Este é um património único. Mas é também um património frágil. Compete a cada um de nós contribuir para a sua preservação, algo que não é tarefa sujeita a prazo ou calendário: é uma batalha de todos os dias.

Contra o discurso flagelatório proferido pelas sentinelas de turno das brigadas eurocépticas.

Contra os que semeiam ventos para colher tempestades.

Contra os arautos de novos paraísos, tão tentadores quanto inviáveis.

Contra os vendedores de utopias a granel, que prometem aos povos futuros patamares de sonho que redundam sempre em pesadelo.

2 comentários

  • Sem imagem de perfil

    Vento 17.05.2014

    Pedro, creio ter escrito aerópago em vez de areópago. Fica aqui a correcção do comentário anterior.
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.