Reflexões europeístas (3)
É impossível usufruirmos do melhor de dois mundos. Não há benefícios sem sacrifícios.
Do qual estamos afinal, nós, europeus, dispostos a abdicar?
Não podemos fechar as fronteiras nem travar a torrente globalizadora. Já não vivemos no tempo dos amplos mercados coloniais, nem das matérias-primas a desaguar na Europa a baixos preços, nem da natalidade elevadíssima, nem dos níveis de crescimento económico superiores a 5% que serviram de base a três décadas de contínua prosperidade, fazendo do nosso continente o que é, no período subsequente à II Guerra Mundial, e permitiram que o Estado-providência se tornasse no que se tornou.
Temos graves problemas estruturais numa zona euro sob ameaça de estagnação económica. Entretanto, outras parte do globo crescem: enfrentamos a concorrência imparável dos mercados emergentes.
O Plano Marshall, que entre 1948 e 1952 fez desaguar no Velho Continente uma quantia equivalente a 148 mil milhões de dólares (ao câmbio actual), em assistência técnica e económica, é irrepetível. E, se o não fosse, apontaria noutras direcções, hoje muito mais carenciadas. Porque a guerra na Europa terminou há 79 anos.
Imaginar que nada disto beliscaria as políticas de redistribuição e que o estado-providência permaneceria inalterado é acreditar que existe um pote de ouro no fim de cada arco-íris.
De que parcela deste Estado-providência estamos dispostos a abdicar?
Que nível fiscal estamos dispostos a suportar?
Aceitaremos a redução das pensões de reforma para adequar os pagamentos ao nível de contribuições existente quebrando um pacto intergeracional devido às novas imposições da demografia?
Ou, em alternativa, deverão cada vez menos cidadãos suportar contribuições cada vez maiores? E estas perguntas não são retóricas. São cruciais. Iludi-las não nos conduzirá a lado nenhum. Ou antes: conduzirá ao progressivo definhamento da Europa, que vista de outras paragens se arrisca a parecer uma senhora parada no tempo, alimentando-se da difusa nostalgia de um passado que não regressa.
Uma espécie de Gloria Swanson em Sunset Boulevard.