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Delito de Opinião

Reflexões europeístas (1)

Pedro Correia, 12.05.14

 

Nos dias que correm, suscitam aplauso generalizado as opiniões destinadas a contestar a construção europeia. Estas opiniões convergem, à esquerda e à direita, num balanço muito negativo das décadas de edificação do desígnio traçado pelos grandes europeístas do pós-guerra: Monnet, Schuman, Churchill, Spaak, De Gasperi e Adenauer.

Em tempo de crise à escala continental, torna-se demasiado fácil apelar às emoções de quem viu traídas genuínas expectativas de enriquecimento e mobilidade social. O problema destes discursos populistas que apontam o dedo à Europa como fonte principal dos nossos problemas actuais é, desde logo, a falta de modelo alternativo: de nenhum deles resulta nada de mais consistente e promissor.

Mas a questão central, além da falta de modelo, é também a falta de memória. O discurso anti-europeísta -- dominante nos media que preferem registar os ecos de quem grita mais alto do que de quem não precisa de elevar a voz para ter razão -- não resiste a um teste de elementar conhecimento histórico. A construção europeia é o único projecto de raiz utópica que trouxe prosperidade aos povos que dele beneficiaram enquanto lhes ampliava em simultâneo as fronteiras da liberdade no século XX, o mais sangrento e devastador de que há registo. Escamotear este facto, mais do que comprovado, é inquinar à partida qualquer debate sério, desviando-o do imprescindível rigor factual.

Não adianta iludir a questão: devemos aos sucessivos patamares da edificação do chamado "sonho europeu" que desembocaram na actual União Europeia o mais longo período de paz e crescimento económico neste continente, transformado ao longo de seis décadas numa referência universal de progresso e civilidade. Com apenas 7% da população do globo, a Europa produz cerca de 25% da riqueza mundial e sustenta 50% das despesas de carácter social no planeta.

É inútil tornear esta evidência, por mais que isso perturbe todo o discurso anti-europeu estribado em argumentos de carácter populista hoje tão em voga, seja por respeitável convicção seja por detestável critério de mero cálculo eleitoral.

5 comentários

  • Sem imagem de perfil

    da Maia 12.05.2014

    Hmmm... então e a Troika só vinha cobrar 78 mil milhões?
    Quer dizer que ainda querem arranjar maneira de cobrar mais 2,9 mil milhões?
    Não chegam os juros, que ainda teremos que pagar?

    Olhe, eu fui a Marrocos, não andei apenas pelos sítios turísticos, e vi uma economia a crescer, muita construção, com desenvolvimento a vários níveis. Imagine-se, há lá funcionários públicos a construirem vivendas com 4 andares, e como é óbvio não são ricos. Tem lá agora portugueses a trabalhar na construção.
    Ali em Marrocos não há desculpa de petróleo.

    Se olhar a diferença entre Portugal e Marrocos em 1986, e olhar a diferença agora... acho que a UE fez convergir Portugal a Marrocos.
    Para os marroquinos parece-me bem.
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    da Lucidez 13.05.2014

    IDH 2012

    Portugal: . 816 (IDH muito alto)

    Marrocos: .591 (IDH médio)

    .816 / .591 = 1:38
  • Sem imagem de perfil

    da Maia 13.05.2014

    Sabe o que é uma comparação entre 1986 e 2014?
    Não entram apenas os dados de 2014, consegue perceber isso, ou é demasiada informação para a sua "lucidez"?
  • Sem imagem de perfil

    da Lucidez 13.05.2014

    Se tivesse ido à China ainda tinha visto mais desenvolvimento. Dizem que hoje há camioneta para lá.
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