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Delito de Opinião

Rastas

José Meireles Graça, 30.09.20

Há dias a SicN apresentou um pivot preto, de rastas, e as redes fervilharam de comentários. Diversas personalidades acharam útil pronunciarem-se e a candidata presidencial Gomes escreveu, entusiasmada, no Twitter: Boa, SicNotícias!

Boa coisa nenhuma. Porque gente com influência no espaço público não deveria ter nada a dizer sobre um facto anódino como é a raça (dão licença, neste contexto, para usar a palavra?). Dizer seja o que for implica que a selecção do moço não se baseou unicamente nas qualidades profissionais para o desempenho do lugar. Ana, ou quem quer que seja, conhece o processo de selecção? Não? Então o que tem a fazer é fechar a matraca.

Se a Sic tivesse ido buscar um dos ou uma das analfabetas que costuma recrutar para tais lugares, ninguém estranharia. Por que carga de água é que este não-assunto se transformou num?

Sei a resposta: a estúpida guerra das raças nos EUA serve de arma de arremesso na luta política local. E entre nós parte-se do princípio que nos convém, além da coca-cola e dos jeans, importar esta querela porque somos imensamente modernos  e são precisas bandeiras, causas, militantes e perspectivas de vida que as discriminações positivas abrem para quem se achar vítima de qualquer coisa. Não sei se Mamadou Ba, o conhecido militante da vitimização rácica, já se pronunciou, nem interessa: se ainda não disse nada, virá com a virtuosa indignação que lhe rende a notoriedade que de outro modo não teria.

De modo que as tropas do meu lado do espectro não deveriam ter quase nada a dizer, e do que tenho visto, tirando a suspeita de oportunismo da Sic, e um injustificado aplauso, o que tenho visto é contenção, salvo no que toca às rastas.

E têm feito muito bem. Que era o que mais faltava se, com medo das acusações de racismo, o novo locutor estivesse ao abrigo de que se lhe critique o aspecto. Naquela prestigiada estação já eles andam quase sempre de fatos arrepanhados e sapatos afiambrados, que algum azeiteiro director de imagem acha decerto que lhes ficam muito bem. E agora aparece um de rastas? Olha, Cláudio, presta atenção que sou teu amigo: isso tem associações identitárias (uma sarilhada delas) para as quais me estou nas tintas, e tu também talvez estejas. Mas têm igualmente, desculpa lá, um aspecto sujo: lavar essa gaforina deve ser o cabo dos trabalhos.

Não me venhas com a conversa de que as locutoras têm cabeleiras ainda maiores e ninguém se lembra de achar que têm mau aspecto. Porque maiores serão mas não têm esse ar empastado. Depois, nunca houve limite para os disparates das modas mas os pivots não são exactamente modelos nem gurus das tendências.

Deverias querer, Cláudio, distinguir-te pela dicção e pela pertinência das perguntas quando tiveres de as fazer. Toma nota.

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