Quem salva o Cristianismo?
Na Alemanha, paga-se o "imposto da Igreja". Não é a única fonte de receitas para as duas Igrejas cristãs (Católica e Protestante), mas representa a maioria dos seus rendimentos. Este imposto não é, porém, obrigatório, qualquer pessoa é livre de requerer a suspensão do pagamento. Não sei bem quais as implicações de tal atitude (não penso, por exemplo, que seja recusado um funeral católico a quem deixou de pagar o imposto), mas fica-se sujeito a limitações. Enfim, será tema para um outro postal, pois hoje é outro o assunto que aqui me traz.
A suspensão do pagamento é um indicador de quanta gente “vira as costas à Igreja”, ou “sai da Igreja”. Os números respeitantes ao ano de 2022 foram publicados recentemente. E fizeram tremer a instituição, pois quebraram todos os recordes. No ano passado, 522.821 habitantes deste país (não só alemães, pois eu, por exemplo, também pago imposto) negaram-se a continuar a “sustentar” a Igreja Católica. Em 2021, considerado ano recorde, tinham sido 359.338. Actualmente, os católicos, na Alemanha, não chegam a ser um quarto da população total.
Responsabiliza-se o escândalo da pedofilia pelo descalabro. Mas também a falta de reformas que acabem com a obrigação do celibato, autorizem a ordenação de mulheres, ou aceitem a relação homossexual. Estas reformas estão, porém, longe de serem a única solução. Se assim fosse, a Igreja Protestante não se veria igualmente a braços com uma crise semelhante.
O padre alemão Jan Loffeld, Professor de Teologia Pastoral na Tilburg University (Holanda), tem-se vindo a ocupar deste assunto. E a dura realidade, é que, pelo menos, no meio europeu ocidental, as pessoas não consideram precisarem de Deus e da religião para serem felizes. Nas suas palestras e conferências, o Professor Jan Loffeld confronta os ouvintes com os números do World Happiness Report. Este ano, os países onde as pessoas consideram ser mais felizes são a Finlândia, a Dinamarca, a Islândia, a Holanda, a Suécia, a Noruega e a Suíça. Ou seja, países, onde os crentes se limitam a cerca de 20% da população!

© Tobias Schulte / Arquidiocese de Paderborn
O Professor avisa: as pessoas deixaram de depender da Bíblia para darem sentido à sua vida. Encontram esse sentido, por exemplo, na família, em bons amigos, na próxima viagem de férias, ou numa profissão que as faça felizes. E a verdade é que se sentem de facto preenchidas. Longe vão os tempos em que a Fé se transmitia de pais para filhos. A Fé passou a ser uma opção entre muitas. Hoje, ninguém convence pessoas a acreditarem em Deus com discursos pomposos ou pregações bonitas. A Fé desenvolve-se através de experiências subjectivas, cada pessoa encontra uma motivação diferente.
O Cristianismo está a sofrer uma transformação radical, os seus crentes tornam-se numa minoria. E o Professor Jan Loffeld é peremptório: as reformas são imprescindíveis. O objectivo principal não deve, porém, pôr a Igreja em primeiro lugar, mas as pessoas. A Igreja tem de modificar a sua relação com o poder, tem de aprender (ou reaprender) com Cristo: neste processo, não se trata dela própria, mas da salvação e da felicidade dos indivíduos. O desafio consiste em manter uma certa relevância e ser eficaz na resolução de problemas sociais, mesmo tornando-se uma minoria e dispondo de menos meios financeiros.
Segundo ele, a Igreja do futuro será uma Igreja daqueles que descobrem a Fé por eles próprios e se comunicam, sobretudo, através das plataformas digitais. A Igreja tem de ir ao encontro dessas pessoas, ajudando-as nas suas reflexões e dando-lhes orientação, a fim de não se tornarem manipuláveis, por exemplo, por sistemas totalitários.
Não há dúvida de que o nosso mundo está a mudar. Estaremos à altura do desafio?
Nota: Texto baseado num artigo do Jornal Católico da diocese de Hildesheim (nº 22, 4 de Junho de 2023).

