Isaltino Morais: «Irrita-me a hipocrisia, o falso moralismo e a brigada da ética»
Quem fala assim... (9)
«Trago sempre muita coisa nos bolsos. Costumo dizer que o bolso é o meu escritório»
Quando o entrevistei, já desempenhava as funções actuais é presidente da Câmara de Oeiras, enquanto independente, repetindo o que fizera enquanto militante do PSD. Ao telefone, foi fluente e de resposta fácil, proporcionando-me dois ou três bons títulos à escolha. Vê-se bem que anda há muitos anos nisto.
Tem medo de quê?
Da inveja e da maledicência.
Gostaria de viver num hotel?
Não. Um hotel é sempre impessoal. Gosto do espaço organizado ou desorganizado por mim.
A sua bebida preferida?
Água. Gosto muito de cerveja, mas só a água tira a sede.
Tem alguma pedra no sapato?
Tenho várias, mas posso arrumá-las num canto do sapato para que não façam muita mossa.
Que número calça?
41.
Que livro anda a ler?
Estou a ler Um Alfaiate em Hong Kong, da minha amiga Ângela Leite. É o terceiro livro que publica.
Tem muitos livros à cabeceira?
Tenho na casa de banho: livros de política, de gestão, romances... Leio muito na casa de banho.
A sua personagem de ficção favorita?
O Tintim.
Rir é o melhor remédio?
Pode não ser o melhor remédio, mas é sem dúvida uma excelente terapia. Costumo rir-me todos os dias. Rio-me dos outros e de mim próprio.
Lembra-se da última vez em que chorou?
Não sou choramingas, mas choro com alguma facilidade. O drama humano emociona-me sempre. Um genuíno gesto de amizade também.
Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?
Em geral, prefiro conduzir.
É bom transgredir os limites?
Estamos sempre a transgredir. Faz parte da natureza humana.
Qual é o seu prato favorito?
Modéstia à parte, sou um excelente cozinheiro. E gosto muito de pratos tradicionais da cozinha portuguesa - feijoada, cozido, carne assada no forno, cabrito assado... Mas o meu prato favorito são cascas de botelo (uma espécie de cozido, à transmontana, com enchidos, presunto e vagens de feijão verde secas).
Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?
A gula é o único pecado que costumo cometer. Mais nenhum.
A sua cor preferida?
É o verde.
Costuma cantar no duche?
Canto fados de Coimbra, que são os que estavam em voga quando tinha 18 anos. Depois dessa idade não aprendi mais canção nenhuma.
E a música da sua vida?
Talvez L' Important C'est la Rose, do Gilbert Bécaud.
Sugere alguma alteração ao hino nacional?
Não sugiro alteração alguma. A letra deve ser entendida como metáfora: o combate aos canhões pode transformar-se no combate à fome e à pobreza.
Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?
Com Eunice Muñoz.
As aparências iludem?
Quase sempre.
Qual é a peça de vestuário que prefere?
O casaco. Por uma razão prática: trago sempre muita coisa nos bolsos. Costumo dizer que o meu bolso é o meu escritório.
Qual é o seu maior sonho?
Ter mais tempo para mim.
E o maior pesadelo?
Não tenho pesadelos.
O que o irrita profundamente?
A hipocrisia, o falso moralismo, a brigada da ética.
Qual a melhor forma de relaxar?
Sentarmo-nos numa esplanada a ver a paisagem passar por nós.
O que faria se fosse milionário?
Faria exactamente o mesmo que faço hoje.
Uma mulher bonita?
Angelina Jolie.
Acredita no paraíso?
Acredito. O paraíso constrói-se todos os dias.
Tem um lema?
Fazer bem feito, à primeira vez.
Entrevista publicada no Diário de Notícias (25 de Outubro de 2008)