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Delito de Opinião

João Soares: «Não gosto de meias-tintas»

Quem fala assim... (30)

Pedro Correia, 27.02.21

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«Mulher bonita? A Carla Bruni. Todos temos um bocadinho de ciúmes de Sarkozy nesse plano. Mas só nesse»

 

O deputado socialista, antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, não é daqueles políticos que hesitam nas respostas. Responde com rapidez e sem gaguejar. Não hesitando em contrariar algumas cartilhas da correcção política, mesmo da sua área ideológica. Foi o que sucedeu nesta nossa conversa telefónica, em que deixou bem claro: «Há quem seja rosa. Mas eu sou dos vermelhos.»

 

Qual foi a maior decepção que sofreu até hoje?

Já sofri algumas, em política e não só. Quando fui derrotado pelo Sr. Lopes em Lisboa, por exemplo: nessa altura fiquei um bocadinho triste com os lisboetas. Mas o que é preciso é olhar para a frente.

Gostaria de viver num hotel?

Nem me passava isso pela cabeça.

A sua bebida preferida?

Sumo de laranja. Laranjas, para mim, só muito bem espremidas.

Que número calça?

42.

Que livro anda a ler?

Estou a ler As Benevolentes, de Jonathan Littell, numa belíssima tradução portuguesa.

Qual é a sua personagem de ficção favorita?

São tantas... Uma das minhas preferidas é a que Humphrey Bogart interpreta em Casablanca.

Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?

Gosto mais de conduzir. Mas há alturas em que dá jeito ser conduzido.

É bom transgredir os limites?

Depende dos limites. Faz sentido transgredir alguns limites.

Por exemplo?

A limitação em vigor ao tabaco em quase todos os países da União Europeia, incluindo Portugal, importada da América neoliberal de Bush. Faz sentido transgredi-la sempre que for possível e não incomode terceiros.

Tem feito isso?

Às vezes.

Qual é o seu prato favorito?

Sou profundamente patriota em matéria gastronómica. Gosto de pescada frita com açorda e uma saladinha de alface e cebola. Gosto de um bom cozido à portuguesa. Gosto de língua de vaca com puré de batata. Gosto de mãozinhas de vitela guisadas. Gosto de umas favinhas com entrecosto...

Qual é o pecado capital pratica com mais frequência?

Sou, no mínimo, agnóstico. As minhas referências bíblicas são limitadas. Sei que há pecados mortais, mas não os conheço todos.

A sua cor preferida?

Do ponto de vista político, é o vermelho. Não gosto de meias-tintas.

Está um pouco desactualizado. O PS agora prefere o rosa...

Há quem seja rosa. Mas eu sou dos vermelhos. Não me envergonho nada, antes pelo contrário.

Costuma cantar no duche?

Não. Mas às vezes assobio.

E a música da sua vida?

Sou da geração dos franceses e dos belgas. Adoro o Brel, o Yves Montand. Mas também gosto muito do Vitorino, da Teresa Salgueiro, do Carlos do Carmo. Há um fado do Carlos do Carmo de que gosto particularmente - Um Homem na Cidade.

Sugere alguma alteração ao hino nacional?

Não. O hino é bem bonito. Sei-o de cor e já o ensinei aos meus filhos. É verdade que aquele trecho que fala em marchar contra os canhões está desactualizado, mas não me incomoda.

Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?

Talvez com o Barack Obama. Ainda não o conheço, mas espero conhecê-lo.

As aparências iludem?

Claro que iludem.

Qual é a peça de vestuário que prefere?

É mais fácil dizer a que menos me agrada: a gravata.

E o seu maior sonho?

Dar um dia a volta ao mundo num barco à vela ou num cargueiro.

E o maior pesadelo?

Não tenho pesadelos.

O que o irrita profundamente?

A estupidez e a burocracia.

O que faria se fosse milionário?

Dava a tal volta ao mundo. De resto, continuaria a fazer o que faço. Nem sequer mudava de casa.

Casamentos gay: de acordo?

Claro que sim.

Uma mulher bonita?

A Carla Bruni. Todos temos um bocadinho de ciúmes de Sarkozy nesse plano. Mas só nesse.

Acredita no paraíso?

Não.

 

Entrevista publicada no Diário de Notícias (16 de Fevereiro de 2008)

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