Otelo Saraiva de Carvalho: «Não cometo pecados capitais, sou santo em potência»
Quem fala assim... (28)
«Gosto mais de conduzir do que ser conduzido. De forma geral, desde miúdo sempre tive vocação para líder»
Estratego do 25 de Abril, caudilho da esquerda mais radical durante o processo revolucionário de 1974-1975, Otelo Saraiva de Carvalho disponibilizou-se de imediato para responder a este questionário telefónico, dando algumas respostas surpreendentes. Prefere o azul ao vermelho, adora cantar New York, New York e a sua personagem de ficção favorita é James Bond.
Qual foi a maior decepção que sofreu até hoje?
Ver o comportamento da classe política portuguesa. Nós, capitães de Abril, depositávamos grandes esperanças nela para elevar o País a patamares de grande nível. Infelizmente, isso não aconteceu.
Gostaria de viver num hotel?
Só em viagem gosto de viver num hotel. De forma geral, o ambiente de hotel deixa de me agradar ao fim de uma ou duas semanas.
A sua bebida preferida?
Vinho tinto.
De onde?
Sempre alentejano. Tinto de Reguengos. E branco da Vidigueira.
Que número calça?
39, 40. Tenho o pé pequeno.
Que livro anda a ler?
Acabei de ler Um Militar na Política, do general Galvão de Melo.
Gostou?
O livro é interessante por fazer algumas revelações importantes sobre a experiência militar de Carlos Galvão de Melo, que ainda antes do início da Guerra Colonial escreveu a Salazar e ao ministro da Defesa, Santos Costa, alertando-os para a necessidade de se encontrarem soluções políticas para o problema africano. Mas Salazar nunca mostrou interesse nisso.
A sua personagem de ficção preferida?
James Bond.
Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?
Gosto mais de conduzir. De forma geral, desde miúdo sempre tive vocação para líder.
É bom transgredir os limites?
É bom, sim senhor!
Qual é o seu prato favorito?
Uma boa posta de peixe grelhado, com batatas cozidas. Cherne ou garoupa, de preferência.
Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?
Não me vejo a cometer nenhum pecado capital - nem inveja, nem luxúria, nem gula, nem preguiça. Não me reconheço em nenhum deles. Sou um santo em potência.
A sua cor preferida?
Azul.
Sempre pensei que preferisse o vermelho...
O vermelho é demasiado ostentatório. Pode ter um sublinhado ideológico, e aí agrada-me. Mas para vestir prefiro o azul.
Qual é a peça de vestuário que prefere?
Pólo.
Costuma cantar no duche?
No duche e sem ser no duche. Costumo cantar. Ando sempre com qualquer canção na boca - desde o Summertime ao New York, New York, do Frank Sinatra. Ou uma canção do José Cid, do Paulo de Carvalho ou do Zeca Afonso.
E a música da sua vida?
Há uma que trauteio muitas vezes: I never promised you a rose garden.
Sugere algum alteração ao hino nacional?
É claro que a letra está desactualizada e podia ser modificada. Mas este hino está muito arreigado na população e é muito conhecido pelos portugueses.
Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?
Com Nelson Mandela [falecido em Dezembro de 2013].
Qual o seu maior sonho?
Ver concretizados os ideais que nos nortearam ao fazer o 25 de Abril. Uma grande parte deles ainda não foi alcançada.
E o maior pesadelo?
A III Guerra Mundial.
O que o irrita profundamente?
A mediocridade e a estupidez.
O que faria se fosse milionário?
Procurava contribuir, de todas as maneiras possíveis, para o aumento do bem-estar, da dignidade e da felicidade do povo português.
Uma mulher bonita na política?
Talvez a Ségolène Royal.
Acredita no paraíso?
Acredito no paraíso terreno, um lugar onde uma pessoa se sinta bem, com uma paisagem magnífica. Há locais assim no nosso país.
Tem um lema?
Antecipar-me sempre à mediocridade.
Entrevista publicada no Diário de Notícias (3 de Novembro de 2007)