José Cid: «O hino nacional devia ser substituído pelos 'Filhos da Nação'»
Quem fala assim... (25)
«Pratico todos os pecados capitais com bastante frequência. E sou amigo de um padre a quem posso confessar-me quando me apetecer»
Foi uma entrevista atribulada. Ao telefone, como as restantes. Enquanto fazia perguntas, ia ouvindo um esquisito ruído de fundo. Não tardei a perceber: era água a correr, José Cid tomava duche. Liguei-lhe horas depois para retomar o diálogo, ele guiava na auto-estrada. Estava nevoeiro, segundo me contou. De repente, uma exclamação: «Eh pá! Distraí-me com a conversa, em vez de ir para Aveiro estou a ir para Viseu...» Não sei se ele chegou a horas, mas a entrevista lá chegou ao fim.
Tem medo de quê?
Todos nós temos medo da morte. A morte é extremamente injusta.
Gostaria de viver num hotel?
Odiava. Não há nada como a nossa casa.
A sua bebida preferida?
Tenho duas: alcoólica, a sidra; não alcoólica, sumo de maçã. Adoro fazer sumo de maçã em minha casa.
Tem alguma pedra no sapato?
Neste momento, não. Mas já tive. As pessoas que me puseram pedras no sapato já morreram.
Que número calça?
42, 43.
Que livro anda a ler?
Balada para Sérgio Varela Cid, o maior pianista do mundo da sua geração, um génio incompreendido, pai da minha amiga Paula Varela Cid. É um livro muito interessante.
A sua personagem de ficção favorita?
Há um autor-personagem em quem gostaria de encarnar: Federico García Lorca.
Rir é o melhor remédio?
Sempre. De nós próprios e dos outros.
Lembra-se da última vez em que chorou?
Sim.
Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?
Gosto muito mais de ser eu a conduzir.
É bom transgredir os limites?
Às vezes nem damos por isso. Ainda ontem, vinha de Faro na auto-estrada e quando reparei já ia nos 170km/hora...
Qual é o seu prato preferido?
Favas com chouriço, ovos escalfados e arroz branco.
Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?
Pratico todos esses pecados com bastante frequência. E sou amigo de um padre a quem posso confessar-me quando me apetecer.
A sua cor preferida?
É o verde. Mas sou benfiquista.
Costuma cantar no duche?
Canto tanto que no duche não me apetece cantar.
E a música da sua vida?
É sempre a próxima. Por exemplo, uma das canções do meu próximo álbum, O Menino Prodígio - «O menino prodígio morreu / E o seu epitáfio sou eu.»
Sugere alguma alteração ao hino nacional?
Sim. Devia ser substituído pelos Filhos da Nação, dos Quinta do Bill.
Gosta da bandeira nacional?
Gosto. Mas gosto mais da monárquica. É mais bonita. Tenho duas em casa.
Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?
Com nenhuma em especial.
As aparências iludem?
Sim, completamente.
Qual é a peça de vestuário que prefere?
Sapatos. Adoro sapatos. E colecciono botas.
Qual é o seu maior sonho?
Ter saúde.
E o maior pesadelo?
Sei lá. Às vezes os sonhos transformam-se em pesadelos.
O que o irrita profundamente?
A mediocridade protegida.
Qual a melhor forma de relaxar?
Dormir a sesta.
O que faria se fosse milionário?
Já sou.
Casamentos gay: de acordo?
Não tenho nada contra: as pessoas devem viver os seus afectos como quiserem e como puderem. Mas não é uma questão fundamental. Muito mais heróico do que um casamento gay é o casamento de um homem e uma mulher com filhos que enfrentam todas as dificuldades perante um sistema que não os protege.
Uma mulher bonita?
Alexandra Lencastre. Gosto de mulheres maduras.
Acredita no paraíso?
Sim. Conheço várias pessoas que estão no paraíso, embora na última fila.
Tem um lema?
Tenho. Nada é de mais, tudo é de menos.
Entrevista publicada no Diário de Notícias (27 de Setembro de 2008)