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Delito de Opinião

Gonçalo Ribeiro Telles: «O meu lema? Servir»

Quem fala assim... (24)

Pedro Correia, 05.12.20

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«Preferia que o hino nacional tivesse uma ligeira alteração: "Viva o Reino de Portugal!", uma vez que a república portuguesa está no fim

 

Foi opositor activo ao Estado Novo, enquanto militante da causa monárquica, um dos fundadores da Aliança Democrática em 1979 e o nosso primeiro ministro do Ambiente (com a denominação Qualidade de Vida), além de categorizado arquitecto paisagista. Quando lhe pedi a entrevista, não virou a cara - procedendo com a sua definição do que deve ser um cavalheiro. Gonçalo Ribeiro Telles morreu há menos de um mês, a 11 de Novembro, com 98 anos.

 

Tem medo de quê?

Tenho medo da ignorância.

Gostaria de viver num hotel?

Não.

Porquê?

Porque tenho casa. A casa faz parte do meu ser. É o ter do meu ser.

A sua bebida preferida?

Água.

Em qualquer estação do ano?

Sim.

Tem alguma pedra no sapato?

Muitas. Tenho uma pedreira autêntica.

Uma pedreira?!

Sim. Isto deve-se, essencialmente, ao meu lamento por verificar o desconhecimento colectivo - de alto a baixo - da nossa maneira de ser enquanto portugueses e da nossa História.

Que livro anda a ler?

Ando a ler este mais recente livro do Papa.

Está a ser um sucesso de vendas...

Não faço ideia.

Costuma ter muitos livros à cabeceira?

À cabeceira, não. Costumo folhear vários livros ao longo do dia, à procura de assuntos.

Que género de assuntos?

Sobretudo de arquitectura, da paisagem, de problemas da sociedade e de problemas políticos.

A sua personagem de ficção favorita?

Talvez o D. Quixote.

Rir é o melhor remédio?

Que remédio... Se não nos rirmos, o que havemos de fazer?

Lembra-se da última vez em que chorou?

Não sei.

Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?

Gosto mais de ser conduzido.

É bom transgredir os limites?

Que limites?

Qual é o seu prato preferido?

Tenho vários. Uma açorda alentejana, por exemplo. E também um bom bife com molho e batatas fritas.

Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?

Talvez seja a preguiça.

A sua cor preferida?

Azul e branco.

Costuma cantar no duche?

Não.

Por algum motivo especial?

Não tenho uma voz brilhante, nem sequer para cantar só para mim.

E a música da sua vida?

A Quinta Sinfonia [de Beethoven].

Sugere alguma alteração ao hino nacional?

Eu preferia que tivesse uma ligeira alteração: «Viva o Reino de Portugal!», uma vez que a república portuguesa está no fim.

Parece-lhe bem a actual bandeira nacional?

As cores da bandeira estão lá, embora em ponto mais reduzido do que eu gostaria. Está lá a cruz, está lá o azul e branco.

Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?

Já há muitos anos que não janto.

As aparências iludem?

Por vezes as aparências iludem. Mas por vezes dão-nos apenas vontade de sorrir.

O que é que um verdadeiro cavalheiro nunca faz?

Voltar a cara.

O que é que uma verdadeira senhora nunca faz?

Meter-se onde não é chamada.

Qual é a peça de vestuário que prefere?

Da gravata às peúgas, não tenho preferências nessa matéria.

Qual é o seu maior sonho?

O meu maior sonho era ver Portugal libertado de pesadelos.

E o maior pesadelo?

O maior pesadelo seria ver o costume transformar-se num costume sem história.

O que o irrita profundamente?

A falta de autenticidade das coisas.

Qual a melhor forma de relaxar?

É tentar passar ao lado.

O que faria se fosse milionário?

Nunca tive esse hipótese. Se isso acontecesse tentaria fazer tudo para valorizar alguns dos lugares mais recônditos do País. Tentaria preservar as capelas que estão a ser alvo de roubos ou a ser destruídas pela nossa incúria colectiva. Procuraria valorizar o nosso património, que tem estado a ser alvo de tantas ameaças.

Casamentos gay: de acordo?

Não é comigo.

Uma mulher bonita?

A minha mulher.

Acredita no paraíso?

Que remédio... Quem está nesta situação infernal com certeza acredita no paraíso.

Tem um lema?

Servir.

 

Entrevista publicada no Diário de Notícias (9 de Abril de 2011)

2 comentários

  • Sem imagem de perfil

    V. 05.12.2020

    Eu que não simpatizo com a República não vejo como é que isso pudesse acontecer — só quando acabar a ditadura do PS
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