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Delito de Opinião

José Adelino Maltez: «O homem é o único animal que sabe que vai morrer»

Quem fala assim... (15)

Pedro Correia, 26.09.20

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«As estúpidas Constituições políticas que vamos tendo esquecem o primeiro dos direitos: o direito à felicidade»

 

Fala sem papas na língua: sugere a Maria da Fonte como novo hino nacional e sonha «destruir o sistema informático de todos os ministérios das Finanças». Politólogo, professor catedrático, comentador nos órgãos de informação, José Adelino Maltez respondeu sem hesitar a todas as perguntas que lhe fiz, já lá vão uns anos.

 

Tem medo de quê?

De ter medo.

Gostaria de viver num hotel?

Só durante um mês.

A sua bebida preferida?

Coca-Cola light.

Tem alguma pedra no sapato?

Quando tenho, uso sandálias.

Que número calça?

42. E meio.

Que livro anda a ler?

Já não tenho idade para ler. Ando a reler.

Tem muitos livros à cabeceira?

Tenho sempre dois. O Homem Revoltado, de Camus - ando a relê-lo há 35 anos, todos os dias. E A Cidadela, de Saint-Exupéry.

A sua personagem de ficção favorita?

Fernão Mendes Minto, que escreveu um dos melhores livros de sempre em Portugal. Ninguém sabe se aquilo é verdade ou mentira, mas também não interessa. Como dizia Armindo Monteiro, que foi ministro de Salazar, a História é o género literário mais próximo da ficção.

Rir é o melhor remédio?

Não há melhor remédio: é o máximo de racionalidade, como sublinhou Henri Bergson na sua tese de doutoramento. Se conseguir rir-me de mim mesmo, sou um homem superior.

Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?

Só gosto de conduzir se a máquina for dependente do meu corpo. Por isso gosto tanto de bicicleta.

É bom transgredir os limites?

O homem é o único animal que sabe que vai morrer. Por isso inventou Deus: para tentar transgredir os limites do mistério.

Qual é o seu prato favorito?

Leitãozinho da Bairrada.

Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?

O pecado clássico de Ícaro: querer voar com asas de cera. O orgulho de não reconhecer os limites.

A sua cor preferida?

Azul, como é evidente.

É evidente porquê?

É a síntese da cor do universo. O céu é azul.

Costuma cantar no duche?

Costumo assobiar.

E a música da sua vida?

Maria da Fonte.

Sugere alguma alteração ao hino nacional?

Sugiro o hino da Maria da Fonte.

Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?

Com o Papa.

As aparências iludem?

As dos mantos diáfanos da fantasia que ocultam a verdade.

Qual é a peça de vestuário que prefere?

O meu chapeuzinho.

O seu maior sonho?

Amar e ser amado.

E o maior pesadelo?

O fanatismo e a ignorância.

O que o irrita profundamente?

A falta de sentido de humor dos gajos do estadão.

Qual a melhor forma de relaxar?

Cada um tem a sua. Para mim é estacionar à beira-mar. Ou à beira do Tejo.

O que faria se fosse milionário?

Contratava cem hackers e mandava-os destruir o sistema informático de todos os ministérios das Finanças.

Casamentos gay: de acordo?

Cada um deve fazer o que lhe apetecer. Mas não usurpem uma instituição que não foi feita para eles.

Uma mulher bonita?

Apetece-me parafrasear Fernando Pessoa: todas as mulheres bonitas são ridículas, mas mais ridículo ainda é não haver mulheres bonitas.

Acredita no paraíso?

O professor Sérgio Buarque de Holanda já dizia que os portugueses gostam de procurar o paraíso na Terra. A procura do paraíso, aqui e agora, é o que mais nos falta. As estúpidas Constituições políticas que vamos tendo esquecem o primeiro dos direitos: o direito à felicidade.

Tem um lema?

Viver como penso sem pensar como vivo.

 

Entrevista publicada no Diário de Notícias (19 de Abril de 2008)

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