Carlos Mendes: «Canto em todo o lado»
Quem fala assim... (14)
«O meu maior sonho é sair-me o euromilhões. Mas não me sairá nunca porque não jogo»
Arquitecto e compositor, duas vezes vencedor do Festival da Canção RTP, Carlos Mendes respondeu sem rodeios mal atendeu o telefone. Sem enrolar palavras nem esconder que canta um pouco em toda a parte. E confidenciando que chorou quando lhe morreram duas cadelas de que gostava muito.
Tem medo de quê?
Tenho medo da pobreza, da fome e da miséria que se vão espalhando pelo mundo.
Gostaria de viver num hotel?
Já pensei muitas vezes nisso. Se fosse solteiro, admitia essa hipótese.
E escolheria alguma cidade em particular?
Paris, sem dúvida. Sinto um grande fascínio por Paris.
A sua bebida preferida?
Gosto de vinho tinto. Do Douro, de preferência. Pelo contrário, não ligo nada às bebidas "espirituosas" - uísque, licores, etc.
Tem alguma pedra no sapato?
Não sou pessoa para ter pedras no sapato. Resolvo sempre as coisas rapidamente. Sou muito directo na forma como falo, o que pode provocar alguns dissabores até porque as pessoas, em geral, não estão habituadas à franqueza. Mas prefiro assim: as pedras ficam nos sapatos dos outros e não nos meus.
A propósito: que número calça?
Nunca sei muito bem se é o 41 ou o 42. Talvez seja o 41,5.
Que livro anda a ler?
Estou a ler um livro estimulante, intitulado Renovar a Ligação Social, do [sociólogo e professor universitário francês] Roger Sue. Tem a ver com um tema que me interessa muito e que merece reflexão séria nos dias que correm: será possível mantermos o espírito colectivo nesta época ou não conseguiremos deixar de olhar em exclusivo para o nosso próprio umbigo?
A sua personagem de ficção favorita?
O Mandrake.
Rir é o melhor remédio?
Exactamente. Houve até um crítico que certa vez sublinhou o facto de eu me rir muito, como se isso lhe causasse enorme estranheza. Mas devemos rir-nos muito: é mesmo um grande remédio.
Lembra-se da última vez em que chorou?
Lembro-me muito bem de uma situação em que chorei copiosamente, o que acabou por me surpreender a mim próprio. Foi quando morreram duas cadelas minhas de que gostava muito - a Gata e a Lua.
Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?
É conforme. Se for no carro, gosto mais de ser eu a conduzir.
Transgredir é bom?
Sim, às vezes.
Qual é o seu prato favorito?
Gosto muito de bacalhau com broa. No Âncora Mar, em Vila Praia de Âncora.
Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?
A preguiça, às vezes.
A sua cor preferida?
É o verde.
No futebol também?
Também.
Costuma cantar no duche?
Costumo. Sempre. Canto em todo o lado.
E a música da sua vida?
Como músico que sou, tenho grande dificuldade em referir uma música da minha vida.
Sugere alguma alteração ao hino nacional?
Não. Está bem assim. É um símbolo nacional, representa uma tradição já enraizada entre nós. Mesmo que a letra seja algo disparatada, mesmo que a música não faça muito sentido. As tradições são o que são.
Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?
Não posso jantar com ele, pois já morreu. Mas gostaria muito de ter conhecido o Franco Corelli, um cantor de ópera que sempre admirei.
As aparências iludem?
Sim. E particularmente no mundo do espectáculo, que vive de aparências e de ilusões.
O que é que um verdadeiro cavalheiro nunca faz?
Um verdadeiro cavalheiro nunca passa à frente de uma senhora numa porta.
Qual é a peça de vestuário que prefere?
Neste momento é o boné. Porque sinto frio na cabeça e já estou careca.
Qual é o seu maior sonho?
O meu maior sonho é sair-me o euromilhões. Mas não me sairá nunca porque não jogo.
E o maior pesadelo?
Seria perder o euromilhões por um número.
O que o irrita profundamente?
A estupidez e a ânsia de protagonismo de tantos chico-espertos.
Qual a melhor forma de relaxar?
Dormir.
O que faria se fosse milionário?
Tornava-me pobre outra vez. Gastava o dinheiro num instantinho.
Casamentos gay: de acordo?
De acordo, embora ache essas convenções uma parvoíce. Sou um pouco "agnóstico" nestas coisas.
Uma mulher bonita?
A Maria Filomena Mónica. É uma mulher lindíssima.
Acredita no paraíso?
Não.
Tem um lema?
Trabalhar, trabalhar. E aprender sempre.
Entrevista publicada no Diário de Notícias (27 de Fevereiro de 2010)