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Delito de Opinião

Carlos Mendes: «Canto em todo o lado»

Quem fala assim... (14)

Pedro Correia, 19.09.20

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«O meu maior sonho é sair-me o euromilhões. Mas não me sairá nunca porque não jogo»

 

Arquitecto e compositor, duas vezes vencedor do Festival da Canção RTP, Carlos Mendes respondeu sem rodeios mal atendeu o telefone. Sem enrolar palavras nem esconder que canta um pouco em toda a parte. E confidenciando que chorou quando lhe morreram duas cadelas de que gostava muito.

 

Tem medo de quê?

Tenho medo da pobreza, da fome e da miséria que se vão espalhando pelo mundo.

Gostaria de viver num hotel?

Já pensei muitas vezes nisso. Se fosse solteiro, admitia essa hipótese.

E escolheria alguma cidade em particular?

Paris, sem dúvida. Sinto um grande fascínio por Paris.

A sua bebida preferida?

Gosto de vinho tinto. Do Douro, de preferência. Pelo contrário, não ligo nada às bebidas "espirituosas" - uísque, licores, etc.

Tem alguma pedra no sapato?

Não sou pessoa para ter pedras no sapato. Resolvo sempre as coisas rapidamente. Sou muito directo na forma como falo, o que pode provocar alguns dissabores até porque as pessoas, em geral, não estão habituadas à franqueza. Mas prefiro assim: as pedras ficam nos sapatos dos outros e não nos meus.

A propósito: que número calça?

Nunca sei muito bem se é o 41 ou o 42. Talvez seja o 41,5.

Que livro anda a ler?

Estou a ler um livro estimulante, intitulado Renovar a Ligação Social, do [sociólogo e professor universitário francês] Roger Sue. Tem a ver com um tema que me interessa muito e que merece reflexão séria nos dias que correm: será possível mantermos o espírito colectivo nesta época ou não conseguiremos deixar de olhar em exclusivo para o nosso próprio umbigo?

A sua personagem de ficção favorita?

O Mandrake.

Rir é o melhor remédio?

Exactamente. Houve até um crítico que certa vez sublinhou o facto de eu me rir muito, como se isso lhe causasse enorme estranheza. Mas devemos rir-nos muito: é mesmo um grande remédio.

Lembra-se da última vez em que chorou?

Lembro-me muito bem de uma situação em que chorei copiosamente, o que acabou por me surpreender a mim próprio. Foi quando morreram duas cadelas minhas de que gostava muito - a Gata e a Lua.

Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?

É conforme. Se for no carro, gosto mais de ser eu a conduzir.

Transgredir é bom?

Sim, às vezes.

Qual é o seu prato favorito?

Gosto muito de bacalhau com broa. No Âncora Mar, em Vila Praia de Âncora.

Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?

A preguiça, às vezes.

A sua cor preferida?

É o verde.

No futebol também?

Também.

Costuma cantar no duche?

Costumo. Sempre. Canto em todo o lado.

E a música da sua vida?

Como músico que sou, tenho grande dificuldade em referir uma música da minha vida.

Sugere alguma alteração ao hino nacional?

Não. Está bem assim. É um símbolo nacional, representa uma tradição já enraizada entre nós. Mesmo que a letra seja algo disparatada, mesmo que a música não faça muito sentido. As tradições são o que são.

Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?

Não posso jantar com ele, pois já morreu. Mas gostaria muito de ter conhecido o Franco Corelli, um cantor de ópera que sempre admirei.

As aparências iludem?

Sim. E particularmente no mundo do espectáculo, que vive de aparências e de ilusões.

O que é que um verdadeiro cavalheiro nunca faz?

Um verdadeiro cavalheiro nunca passa à frente de uma senhora numa porta.

Qual é a peça de vestuário que prefere?

Neste momento é o boné. Porque sinto frio na cabeça e já estou careca.

Qual é o seu maior sonho?

O meu maior sonho é sair-me o euromilhões. Mas não me sairá nunca porque não jogo.

E o maior pesadelo?

Seria perder o euromilhões por um número.

O que o irrita profundamente?

A estupidez e a ânsia de protagonismo de tantos chico-espertos.

Qual a melhor forma de relaxar?

Dormir.

O que faria se fosse milionário?

Tornava-me pobre outra vez. Gastava o dinheiro num instantinho.

Casamentos gay: de acordo?

De acordo, embora ache essas convenções uma parvoíce. Sou um pouco "agnóstico" nestas coisas.

Uma mulher bonita?

A Maria Filomena Mónica. É uma mulher lindíssima.

Acredita no paraíso?

Não.

Tem um lema?

Trabalhar, trabalhar. E aprender sempre.

 

Entrevista publicada no Diário de Notícias (27 de Fevereiro de 2010)

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