Vítor Espadinha: «Sonho com muitas vezes com a Jennifer López e a Sharon Stone»
Quem fala assim... (11)
«O pecado capital que pratico com mais frequência? Cobiçar a mulher do próximo»
Assume-se como galã à moda antiga, sem deixar de distribuir piropos a mulheres várias, como esta entrevista comprova. De improviso, ao telefone, e com gargalhadas à mistura. Actor com muita rodagem, o intérprete do sucesso discográfico Recordar é Viver não se atrapalha com as perguntas. É ler para crer.
Tem medo de quê?
Da falta de saúde.
Gostaria de viver num hotel?
Não. Já vivi em muitos hotéis, quando andava em digressões, e não aguento.
A sua bebida preferida?
Um vinho de qualidade.
Tem alguma pedra no sapato?
Tenho. Estava com a minha carreira teatral lançada em Londres quando um dia acordei, li o Evening Standard e descobri uma fotografia de uns soldados em cima de blindados e com flores nas espingardas. Fiz logo as malas e voltei para Portugal. Estou muito arrependido.
A propósito: que número calça?
41.
Que livro anda a ler?
Ando a ler um livro do José Luís Peixoto. Chamado Livro, precisamente.
A sua personagem de ficção favorita?
As personagens dos filmes com Jean Gabin.
Rir é o melhor remédio?
É um dos melhores.
Chorar não é?
Chorar, não. A não ser por fingimento, quando representamos um papel teatral ou na televisão. Os bons caracterizadores encostam-nos um produto à cara, com cheiro a mentol, e durante a meia hora seguinte não paramos de chorar.
Lembra-se da última vez em que chorou?
Lembro. Foi com mentol, numa telenovela chamada Podia Acabar o Mundo, em que interpretava o papel de um vagabundo que era também fotógrafo.
Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?
Se fosse muito rico, tinha carro com motorista e seguia no banco de trás, muito confortável, a ler o Financial Times. Como não sou rico, adoro conduzir.
É bom transgredir os limites?
Depende dos limites. E também depende daquilo de que falamos. Às vezes quanto mais se abusa melhor sabe. Outras coisas não têm graça nenhuma - e quando se abusa delas muito menos.
O seu prato favorito?
Favas com chouriço.
Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?
Cobiçar a mulher do próximo.
A sua cor preferida?
Depende. No futebol é o verde. Na paisagem, o azul é muito bonito. Numa mulher, o preto é lindíssimo. As cores dependem muito do contexto em que se situam.
Costuma cantar no duche?
Não. No duche costumo pensar.
E a música da sua vida?
Tenho várias. Quase todas do Aznavour. She, por exemplo.
Sugere alguma alteração ao hino nacional?
Sim. Contra os canhões ninguém marcha, a menos que seja suicida. O autor não estava muito inspirado quando compôs a letra.
Parece-lhe bem a actual bandeira nacional?
Enquanto não tiver lá a cara do Sócrates, aguenta-se bem. Só falta vê-lo aparecer no lugar da esfera armilar.
Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?
Com a Jennifer López e a Sharon Stone. Aliás tenho sonhado muitas vezes que janto com elas. Só lamento que elas não saibam disso.
As aparências iludem?
Muito.
O que é que um verdadeiro cavalheiro nunca faz?
Deixar de gostar de mulheres.
O que é que uma verdadeira senhora nunca faz?
Dizer, noite após noite, que tem dores de cabeça.
Qual é a peça de vestuário que prefere?
Em certas ocasiões gosto muito de um fato à maneira.
Qual é o seu maior sonho?
Algo muito difícil para um português em Portugal: ter sempre trabalho.
E o maior pesadelo?
Não ter trabalho.
O que o irrita profundamente?
A estupidez.
Qual a melhor forma de relaxar?
Um bom banho. De preferência acompanhado.
O que faria se fosse milionário?
Penso muito nisso. A primeira coisa que fazia era construir um teatro. Sem a mão do Estado, para não estragar. Há meia dúzia de milionários portugueses que podiam fazer o mesmo.
Casamentos gay: de acordo?
Nada tenho contra as ligações entre gays. Mas o casamento dá-me vontade de rir.
Uma mulher bonita?
A Alexandra Lencastre.
Acredita no paraíso?
Não. Tenho muitas dúvidas sobre a vida para além da morte.
Tem um lema?
«Versos são pedaços de carne que, a sangrar, / servem de pensos a poetas doutorados / e que outras tantas carnes vão curar / pedaços de corpos amargurados». É um lema.
Entrevista publicada no Diário de Notícias (19 de Fevereiro de 2011)