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Delito de Opinião

Quantos são? Quantos são?

Paulo Sousa, 27.03.20

É vulgar dizer-se que estudar a história ajuda-nos a evitar a repetição de erros cometidos. Faz sentido. Até por ser frequente isso se confirmar da pior forma, quando erros evitáveis acabam por ser repetidos.

Sobre a maneira de lidar com a ameaça que estamos a viver, podemos olhar para trás e procurar em que período histórico algo idêntico ocorreu, e não encontramos nada comparável que se tenha passado em democracia e nem com um volume de actividade económica e envolvimento internacional comparável.

Governantes realistas, que não pretendessem iludir os seus cidadãos, deveriam assumir que a imprevisibilidade do desafio poderia surpreender a todos da pior forma.

Por mais precavido e apetrechado que seja um sistema de saúde existirá sempre um ponto a partir do qual deixará de conseguir responder. Esse ponto varia de sistema de saúde para sistema de saúde, mas todos têm um ponto de ruptura.

Se as coisas assim forem explicadas à população, jogo aberto sem nada na manga, cada cidadão fará o seu juízo. Existem sempre alguns que gostam que lhe prometam impossíveis e por isso continuam a preferir ser governados por mentirosos, mas quando falamos em maturidade democrática importa falar claro e assumir a realidade. Numa hora de ameaça absoluta Churchill não prometeu mais que sangue, suor e lágrimas. E não desiludiu.

O nosso governo, na figura do Sr. Costa, tem se comportado como um fanfarrão à beira de uma rixa de rua com um possível campeão de pesos pesados, a que ainda nem sequer vislumbrou o caparro. Enquanto arregaça as mangas já tem um olho à Belenenses e já começou a gritar que o animal se vai arrepender, pois ainda nada faltou nem é previsível que venha a faltar ao SNS.

Bem sabemos que o esforço feito nos últimos anos para eliminar o défice desguarneceu alguns serviços públicos. Foi uma opção legítima mas que levou a que o ponto de ruptura do SNS estivesse, mesmo sem pandemia, intermitentemente à vista.

Chegados a este ponto, ninguém com seriedade pode garantir que está preparado para a refrega.

Se tivessem lido os antiquíssimos ensinamentos do mestre Sun Tzu na Arte da Guerra, teriam consciência que não conhecem o adversário, nem o terreno e não tiveram a iniciativa. Não garantir apenas um destes pontos pode ser suficiente para ser derrotado.

Mas ele continua voluntarioso a esbracejar para que no final ao menos se venham a lembrar dele como um fanfarrão enérgico. A imprensa amiga irá tentar cozer-lhe os sobrolhos. As baixas serão uma estatística lamentável, mas a deslealdade com que trata os seus soldados, os profissionais de saúde, ficará para memória futura.

4 comentários

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    Paulo Sousa 27.03.2020

    Os profissionais de saúde são as tropas por trás das linha do inimigo. Todos os restantes estão na linha de fogo.
    Franco só não alinhou com Hitler na segunda guerra mundial porque tinha o país arrasado, e não por distanciamento ideológico.
    O nosso SNS, depois da dieta forçada de emagrecimento a que foi sujeito, é natural que não esteja preparado para o que aí vem. Negar isso e garantir o contrário é fanfarronice.
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    Vento 27.03.2020

    Paulo, Franco sempre alinhou com Hitler. Recordo-lhe que a cidade basca de Guernica foi bombardeada (1937) por aviões militares alemães, como teste do que aí viria.
    No caso em apreço em minha opinião procurou-se tempo para poder estruturar melhor o SNS, que começou a funcionar em outros moldes e, devido ao estado de emergência, também se pôde chamar o privado para este combate.

    Em geral foi isto que pretendi realçar com o meu primeiro comentário.
    Abraço
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    Paulo Sousa 28.03.2020

    O que quis dizer foi que o Franco só não entrou na guerra porque tinha o país arrasado. E comparei isso com o estado do SNS antes desta situação, embora esta guerra com o vírus não como ser evitada. Assim levaremos com ela num estado de fragilidade desconcertante. E isso já era mau sem ter um PM a garantir que estamos preparados para o que der e vier.
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