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Delito de Opinião

Quando cai a noite

Pedro Correia, 03.09.20

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A roda andava ali, a namorar-me há vários dias. Passava pela feira popular, junto à marina de Lagos, e aquelas luzes tocavam-me de nostalgia: serão após serão, aumentava a vontade de dar uma voltinha. Como um irresistível regresso aos carrosséis da infância.

 

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Por imediata associação de ideias, senti-me remetido ao Prater, em Viena - àquela roda gigante onde foi rodada uma cena crucial de um dos meus filmes favoritos: O Terceiro Homem, com Orson Welles e Joseph Cotten. Recordo a emoção de me sentar numa daquelas cabinas que figuram na história do cinema, com o célebre parque de diversões a diminuir de tamanho aos nossos olhos enquanto a roda ia girando com deliberada lentidão.

 

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Tal como aqui. Sem a magnífica partitura de Anton Karas em fundo, mas com uma visão soberba desta cidade algarvia que me acolhe como se estivesse em casa. Vista de vários ângulos. Desde logo o da marina, que ganha um encanto muito especial quando cai a noite.

 

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O ângulo inverso não é menos atraente. Com a ribeira pronta a desaguar no oceano, ali bem próximo, e a sensual urbe perseguindo-a nesta rota - orgulhosa dos seus pergaminhos históricos, consciente do fascínio que continua a exercer sobre os forasteiros. Mesmo em tempo de sustos pandémicos. 

Voltei a pôr os pés no chão com refrescante alegria. Nada de especial tinha acontecido, apenas isto: durante uns minutos, senti-me miúdo outra vez.

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