Quando as previsões metem água
Vale a pena acompanhar com atenção as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Eu nunca perco uma.
Em Setembro, puseram-nos de prevenção: vinha aí um Outono quente e seco: «Vai voltar a verificar-se uma conjugação de anomalia positiva na temperatura e negativa na precipitação.»
Soaram os alarmes, desataram os badalos do catastrofismo milenarista, já nos imaginávamos como beduínos entre camelos nas areias do deserto.
Afinal era rebate falso. A chuva desse início de Outono «foi 158% superior à normal». Mais: este foi «o quarto Setembro mais chuvoso» do século em Portugal.
Em Outubro, as previsões voltaram a acertar ao lado: choveu imenso. A tal ponto que, segundo o próprio IPMA, esse período «correspondeu a 123% do valor da norma climatológica 1971-2000».
E em Novembro? Todos sabemos como foi. Mas nada melhor do que registar o vocabulário científico. Ei-lo, com a devida vénia ao mesmo instituto público: «A situação de seca meteorológica desagravou-se em Portugal continental.» Eufemismo que significa: choveu durante quase todo o mês. Dois meses de chuva até «conseguiram transformar a cor de Portugal visto a partir do espaço».
Poiso o guarda-chuva, dispo a gabardina e recordo com alguma melancolia o boletim meteorológico do final do Verão que parecia formulado pelo Professor Karamba: «Outono será mais seco do que devia. A seca veio para ficar.»
E apetece-me deixar uma singela recomendação ao IPMA: prognósticos, a partir de agora, só no fim.