Punição e prevenção
Li estes textos do Paulo Pinto e concordo especialmente com um aspecto fundamental: aumentar as coimas de pouco serve. Como ele escreve, torna-se tudo um jogo de roleta: se as probabilidades de não se ser apanhado forem baixas, o aumento das coimas é pouco útil. Se forem elevadas, então até um valor baixo já serve.
Perante isto olho para o exemplo holandês. Os holandeses são dos condutores mais enervantes que conheço. Fazer sinal com o "pisca" é contra a religião de metade deles. Nas autoestradas têm como noção de distância de segurança em relação ao condutor da frente, o espaço onde caiba, no máximo, uma bicicleta (qualquer distância de segurança normal é apenas um espaço para se meterem). Em cruzamentos gostam de cortar curvas; etc, etc, etc.
Há um aspecto curioso, no entanto: há relativamente poucos acidentes. As razões para isso (a meu ver) prendem-se com 4 aspectos:
1. Velocidade. Os holandeses não ultrapassam os limites de velocidade. Quando vão na autoestrada e compressa talvez sigam a 10 km/h mais que o limite. São raros os aceleras.
2. Álcool. Não conduzem embriagados. Se estiverem sozinhos, não bebem. Se em grupo, seleccionam o BoB (aquele que não bebe) e esse fica abstémio.
3. Estradas. Os impostos de circulação são pesados (um Opel Corsa 1.3 a diesel custa cerca de 220 €/trimestre em imposto) e são usados para ter estradas impecáveis.
4. Automóveis. A inspecção é implacável e quando chega o período dela começam a chegar os e-mails e as cartas da garagem onde a fazemos e da DGV cá do sítio. Carros em mau estado são despachados.
E, voltando ao início, a probabilidade de se ser apanhado é relativamente elevada. Os radares são conhecidos, mas há tantos que se torna difícil escapar. Além disso, quando toda a gente conduz dentro dos limites e com a densidade automobilística do país, torna-se muito difícil ultrapassar os limites. Assim sendo, bastam coimas que começam nos 10 € (sim, dez euros) para excessos de velocidade relativamente baixos (até 10 km/h a mais, creio).
Claro que nada disto é simples. Exige investimento (não só em equipamento) e exige educação (as crianças são bombardeadas desde cedo). Portugal, apesar de tudo, tem vindo a melhorar dramaticamente desde há décadas. O caminho que falta fazer, no ntanto, não deveria ser pela via da punição. Antes pela da prevenção.