Psicodrama
Este título é todo um tratado. Lilly Allen "admite" que vai ao psicólogo. Se fosse ao dentista não teria de "admitir", bastaria ir. Aliás, se fosse ao dentista, ou ao ginecologista, ou otorrinolaringologista e por aí fora não era notícia. Ir ao psicólogo, apesar de a depressão já ter sido considerada a doença do século, ir ao psicólogo, apesar de se saber que se vendem milhões de ansiolíticos e anti-depressivos, ir ao psicólogo é um embaraço.
Cuidar de qualquer parte do corpo é natural. Presume-se que o corpo precisa de cuidados, por isso vigiá-lo revela-se até uma atitude saudável. Já admitir que psicologicamente nem sempre tudo está bem, só se deve fazê-lo em tese. Os media, de tanto falarem no assunto até tornaram essa ideia consensual, mas uma coisa é fazer conversa de salão e outra é dizer que se vai ao psicólogo. No mínimo está a confessar-se uma debilidade, no máximo uma disfunção.
Nos tempos em que tudo se revela na Internet, incluindo as partes pudibundas do corpinho e o que se faz com ele nos tempos livres, só não se pode mostrar as fragilidades da alma.