Primeiras impressões
1. Não vejo qual seja o problema de o estudo ter sido coordenado por um economista que um desses avençados já “rotulou” de "liberal". Se fosse socialista era porque era socialista, como é “liberal” e com formação numa prestigiada universidade norte-americana também não serve. Parece-me que o fundamental é que o trabalho, esse ou qualquer outro, seja feito por gente capaz, conhecedora e competente, se possível recorrendo a um leque alargado de pessoas com diferentes visões e experiências de vida. Só assim se poderá encontrar uma solução que sirva aos portugueses e os retire da situação humilhante em que os governos de Sócrates e de Passos Coelho os colocaram.
2. As ideias pareceram-me interessantes e em linha com aquilo que penso em termos globais. Se os números batem certo ou se são atingíveis é outra questão. Como não sou um especialista na matéria, tal como a maioria dos portugueses, deixo isso a quem sabe e confio na seriedade das apreciações que aqueles que me merecem confiança e se dedicam a estudar as questões irão fazendo.
3. Seriedade é coisa que não existe em gente que ainda antes do final da apresentação do relatório, sem o ter lido, já o comentava e desvalorizava as propostas efectuadas. A falta de seriedade de alguns políticos é mais grave do que a sua cegueira ideológica. Como hoje o Público escreve, “[o] deputado Matos Correia não esperou para ler o documento para afirmar que, “se o caminho miraculoso que o PS descobriu tivesse pés para andar, não havia nos países da Europa comunitária a tendência que tem vindo a ser seguida do ponto de vista da consolidação orçamental e da sustentabilidade”.
4. Depois, vir afirmar a fraca qualidade das propostas com base em argumentos como aquele que já vi referido de que se António Costa não sabe tratar das contas do partido e o PS vai pedir um empréstimo à banca para resolver a sua situação interna é porque também não saberá tratar do país, é esquecer que em Novembro de 2014 já o Observador escrevia que ele iria herdar do antecessor mais de 10 milhões de dívida, e que o próprio PSD, até há bem pouco tempo, antes de começar a capitalizar com a ida para o Governo, era o partido mais endividado do país. Com este nível de argumentação, típica de quem cospe para o ar, e susceptível de ser acolhido e aplaudido pelos comentadores blogosféricos de algumas remotas freguesias do interior, bem podem limpar as mãos à parede.
5. Ficarei à espera dos comentários dos entendidos e de todos aqueles que não sendo especialistas leram o documento antes de falar para poderem formar uma opinião esclarecida. Eu também tenho de ser convencido da bondade e exequibilidade das propostas.
6. Aquilo que vivamente aconselho, permitam-me a sugestão, é que alguém que soubesse português, antes de divulgarem e colocarem para consumo no espaço público relatórios deste tipo, procedesse à revisão do texto. Já bastava terem-no escrito em “acordês”. Que tenham pedido a colaboração de um deputado jotinha, presumo, para separar os parágrafos e colocar a pontuação, é que era de todo despiciendo. Seria uma lástima que o Programa de Governo do PS saísse assim, permitindo às pessoas pensar que teria tido a colaboração de um conhecido deputado do PSD que escreve para o Expresso. Ou que pudesse vir a ser criticado por alguém, em razão desse facto, independentemente da justeza das medidas.