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Delito de Opinião

Presidenciáveis (67)

Pedro Correia, 11.06.15

 

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José Miguel Júdice

 

Há pessoas que parecem nunca estar exactamente no mesmo sítio. E outras a quem tudo parece sempre acontecer cedo de mais.

E há quem acumule estas duas características. É o caso de José Miguel Júdice. Antes de chegar aos 30 anos já militara na extrema-direita universitária antes do 25 de Abril, fora preso no 28 de Setembro de 1974 por ligações ao Movimento Federalista Português, estivera ligado ao MDLP de Spínola no Verão Quente de 1975, trabalhara como assistente na Faculdade de Direito de Coimbra, iniciara uma promissora carreira como advogado e estreara-se como "analista político" em concorrência directa com Marcelo Rebelo de Sousa.

Após décadas com o País a "viver habitualmente", segundo a definição de Salazar, a geração de jovens a que Júdice pertenceu quis viver rapidamente. A história acelerava e eles aceleravam ao mesmo ritmo. Muitos deles acabaram por percorrer trilhos muito diversos daqueles que idealizaram.

Houve uma altura em que este nativo de signo Leão, hoje com 65 anos, se limitava a comentar notícias. Depois, nos idos da década de 80, tornou-se ele próprio notícia. Filiado em 1981 no PSD, liderou a Distrital de Lisboa dos sociais-democratas e engrossou a corrente Nova Esperança - com Marcelo, Santana Lopes e Durão Barroso - que preparou a tomada do poder por Cavaco Silva.

Podia ter sido ministro: não chegou lá. Em 2006, coroando uma ruptura muito anterior, desfiliava-se do PSD. No ano seguinte seria mandatário da candidatura socialista de António Costa em Lisboa. Num ritmo que tinha tanto de frenético como de errante.

Acabou por destacar-se não na política mas na advocacia, como sócio de um dos mais prósperos e prestigiados escritórios lisboetas: a PLMJ, fundada em 1967 por António Maria Pereira (que Júdice conheceu na prisão após o 28 de Setembro de 1974) e Luís Sáragga Leal.

Mário Soares e Jorge Sampaio, advogados, foram Presidentes da República. Ambicionaria Júdice coroar mais de quatro dezenas de anos na vida pública com uma candidatura a Belém? É verdade que foi desperdiçando apoios pelo caminho. Mas também não lhe custaria obter outros, com a destreza de movimentos e a flexibilidade táctica que sempre demonstrou. Flectindo do extremo para o centro e rematando à vontade com os dois pés. Como um ás da bola. Só precisa que alguém lha passe.

 

Prós - A barba que sempre usou volta a estar na moda: em Espanha, por exemplo, é adoptada por políticos tão diversos como o Rei Filipe VI, o primeiro-ministro Mariano Rajoy e o líder do Podemos, Pablo Iglesias. A PLMJ, hoje com 350 advogados, 47 sócios e cem colaboradores, poderia funcionar como um eficiente centro de operações eleitorais. Ter sido bastonário da Ordem dos Advogados (entre 2002 e 2004) rende-lhe apoios junto de todos quantos pensam que isto só lá vai com umas bastonadas.

 

Contras - Bastaria chamar-se José Pedro em vez de José Miguel para ter muito mais probabilidades de atrair o voto liberal: o único Miguel que chefiou o Estado português foi também o nosso último rei absolutista - que os liberais baniram do País em 1834 e acabou por morrer no exílio em 1866. Ser proprietário da Quinta das Lágrimas - que pertence à sua família desde o século XVIII - não lhe assegura popularidade entre todos quantos se habituaram durante anos a sintonizar a Praça da Alegria. Já confessou numa entrevista "não ter feitio para ser político": nada pode causar tão boa impressão entre os eleitores como uma frase destas.

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