Presidenciáveis (66)
José Pacheco Pereira
Transporta a esquerda nos genes embora já tenha sido um dos homens mais odiados pela esquerda em Portugal, nos tempos do cavaquismo puro e duro, em que chegou a liderar a Distrital de Lisboa do PSD e o grupo parlamentar social-democrata. Envolveu-se em contínuas polémicas tendo por frequente alvo os órgãos de informação que nunca deixaram de dar espaço e tempo aos textos e à voz deste portuense de 66 anos, signo Capricórnio.
Perdidas em 2010 as eleições internas no PSD, onde era o estratego de Manuela Ferreira Leite, passou a ter o novo líder laranja, Passos Coelho, em ponto de mira. Num crescendo de intensidade que o tornou no mais persistente opositor ao Governo na Quadratura do Círculo. Com idêntico vigor ao que utilizara no apoio à intervenção americana no Iraque, em 2003, para derrubar Saddam Hussein.
Apesar de ocasionais incursões noutras áreas, como a ficção científica, é incapaz de pensar fora dos parâmetros totalizantes da política. A própria biografia "não autorizada" de Álvaro Cunhal, de que é autor, surge com a advertência ao leitor que vem expurgada de tudo quanto não seja político. Tarefa complexa, pois o mundo do ex-líder do PCP começava e terminava na política. Como o mundo de José Álvaro Machado Pacheco Pereira.
Candidato presidencial? Porque não, se a política é a grande paixão da sua vida? Apoios partidários? Não precisa. Estariam com ele muitos dos que já o detestaram. E quem hoje o detesta também lhe faria propaganda, actualizando o mote de Oscar Wilde: «Falem de mim, mesmo que seja para dizer mal.»
Prós - A barba patriarcal assenta-lhe bem, tal como a estudada indumentária casual chic, apropriada às mais diversas circunstâncias. Tem um discurso muito articulado, embora de geometria variável, consoante adesões e aversões de ocasião. Fala e escreve em três grupos editoriais concorrentes: isso facilita-lhe o eco na comunicação social que ele sempre vergastou. Mário Soares, um velho amigo, seria capaz de votar nele. E Sampaio da Nóvoa - por sugestão de Soares - também.
Contras - Ser treinador de bancada é tarefa muito menos espinhosa do que ir a votos, como Pacheco bem sabe: foi candidato à câmara de Loures, em 1989, e perdeu. Mal com a extrema-esquerda por amor à esquerda reformista, mal com esta por amor ao liberalismo, mal com o PSD de Passos por amor ao PSD de Manuela, mal com a "Europa financeira" por amor à "Europa social": foi dinamitando demasiadas pontes para permanecer sem cicatrizes dos estilhaços que causou.