Presidenciáveis (65)
Helena Roseta
Já demonstrou disponibilidade para avançar, mas está consciente de que uma campanha eleitoral custa dinheiro. E de campanhas sabe ela: já fez muitas, desde o início da democracia. Primeiro pelo PSD: foi deputada à Assembleia Constituinte e participou nas legislaturas iniciais, sempre na linha da frente da bancada parlamentar laranja. Esteve com Sá Carneiro até ao fim, liderou a Distrital de Lisboa do partido, chegou a ser conotada com a ala mais à direita dos sociais-democratas, mas viria a romper pela esquerda ao apoiar a candidatura presidencial de Mário Soares, contrariando as indicações de Cavaco Silva, que optou por Freitas do Amaral.
Basta lembrar que Freitas foi o candidato da direita nesse escrutínio de 1986 para se perceber como Portugal estava então muito mais à esquerda do que hoje. Era um país em que a banca comercial permanecia estatizada, a Constituição impunha que as nacionalizações eram "irreversíveis", quase todos os jornais pertenciam ao Estado e a televisão privada não passava de utopia.
Nesse país muito diferente do actual, esta arquitecta de signo Capricórnio viria a navegar às avessas, aderindo ao PS. Filiou-se em 1991 e viria a ser conotada com a ala mais à esquerda dos socialistas. Mas também não ficou lá muito tempo.
Helena Roseta desencantou-se com os partidos, não com a política. Rompendo com o PS, apoiou a candidatura rebelde de Manuel Alegre a Belém (2006) que surpreendeu os "analistas" sempre distraídos ao atingir o segundo lugar nessa eleição. Aproveitando o balanço, formou ela própria uma lista independente à câmara alfacinha, em 2007, sob a sigla Cidadãos por Lisboa. Tornou-se vereadora e hoje, aos 67 anos, é presidente da Assembleia Municipal.
Começou muito nova a interessar-se pela política, nos meios católicos da oposição ao salazarismo. Meio século depois continua tão envolvida como dantes na vida pública, mas numa fase pós-partidos. E teima em aumentar a participação feminina nos cargos dirigentes portugueses. Conseguirá meios para a campanha rumo a Belém? Já se percebeu que vontade não lhe falta.
Prós - Nasceu no mesmo ano de Hillary Clinton, que já anunciou a candidatura à Casa Branca em 2016. Mantém o c na palavra arquitecta, sem operações estéticas: correcta opção ortográfica de quem presidiu à Ordem dos Arquitectos entre 2002 e 2007. Pertenceu à geração dos cabouqueiros da democracia portuguesa, que andou a colar cartazes em todo o País e a levar pancada nos comícios: falta prestar a devida homenagem a esta geração.
Contras - Teve uma experiência mal-sucedida como presidente da Câmara de Cascais, na década de 80. Contaria com a oposição da esmagadora maioria dos taxistas lisboetas: é uma fervorosa adepta das ciclovias. Transitar da direita à esquerda contraria o paradigma enunciado pelo ex-chanceler alemão Willy Brandt: um esquerdista muito activo aos 20 anos será um convicto social-democrata a partir dos 40.