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Delito de Opinião

Presidenciáveis (64)

Pedro Correia, 08.06.15

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Miguel Sousa Tavares

 

Estreou-se no jornalismo num periódico onde se fazia mais política do que informação. E ficou vacinado: através dos anos assumiu-se como um comentador isento de clubite política, embora não de paixão por causas públicas nem de clubite futebolística, que aliás pratica sem camuflagens. É tripeiro de berço e de afición desportiva, sem esconder uma incomensurável aversão pelos rivais históricos do FC Porto.

Ao lê-lo na imprensa ou escutá-lo na televisão, detectam-se bem os seus amores e ódios. Gosta de viajar, ler, caçar, comer: ele e Ernest Hemingway teriam sido compinchas. Gosta de futebol e de acelerar na estrada. Detesta coisas tão diversas como a regionalização, a lei do tabaco, os atentados urbanísticos no litoral português, a privatização da TAP e o "acordo ortográfico".

Miguel Andresen de Sousa Tavares demarca-se da larga maioria dos políticos apesar de os ter conhecido quase todos, por via profissional ou em casa dos pais - Sophia de Mello Breyner Andresen e Francisco de Sousa Tavares. Ela poetisa, ele advogado. De ambos herdou o impulso para a escrita: de rara sensibilidade e virtuosismo estético, no caso dela; de uma combatividade tenaz e truculenta, no caso dele.

Dos pais herdou também o apego à liberdade e o imperativo da mobilização cívica - através da palavra e do exemplo. Oriundos das fileiras católicas, foram ambos pertinazes opositores à ditadura. Sophia integrou a bancada socialista na Assembleia Constituinte (1975-76). Francisco distinguiu-se como deputado independente eleito nas listas da Aliança Democrática, de Sá Carneiro, antes de ser ministro da Qualidade de Vida no executivo do bloco central.

Comentador respeitado, mesmo por aqueles que discordam dele, este nativo de Caranguejo - prestes a completar 63 anos - poderá renunciar à condição de treinador de bancada e deixar-se enfim seduzir pelo palco político numa corrida presidencial?

Talvez resmungue perante tal hipótese, talvez até a considere absurda. Mas se souberem convencê-lo com as palavras certas e as circunstâncias assim determinarem, ainda é capaz de mudar de ideias. E tornar seu lema, em tal contexto, estes belos versos de sua mãe: "Pudesse eu não ter laços nem limites / Oh vida de mil faces transbordantes / P'ra poder responder aos teus convites / Suspensos na surpresa dos instantes." 

 

Prós- A presença em Belém deste opositor à construção de um terminal de contentores que corte o horizonte visual do Tejo dar-nos-ia a certeza de termos um Presidente com vocação para ver navios. Anti-acordista convicto, jamais confundiria um acto presidencial com a primeira pessoa do presente do indicativo do verbo atar. A deputada centrista Teresa Caeiro, com quem está casado, seria uma esplendorosa Primeira Dama.

 

Contras - Transformaria todo o Palácio de Belém em espaço aberto a fumadores, contrariando as normas da Organização Mundial de Saúde. Os republicanos mais ferrenhos, ao vê-lo vibrar tanto com as camisolas azuis e brancas, suspeitariam que há nele inclinações monárquicas. A Tapada das Necessidades voltaria a ser zona de caça para dar largas às inclinações cinegéticas do Chefe do Estado, motivando-lhe críticas duríssimas do Partido dos Animais: até pessoa lhe chamariam.

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