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Delito de Opinião

Presidenciáveis (63)

Pedro Correia, 05.06.15

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Isabel Jonet

 

Muitos dos que em Janeiro de 2015 andaram a bater no peito gritando "Je suis Charlie" figuram na primeira linha do apedrejamento público quando está em causa a liberdade de expressão. Basta percorrer as redes sociais para se detectar o fenómeno: as palavras carregadas de azedume e ódio a quem parece pensar de maneira diferente surgem num galope incessante. Estas ondas de intolerância alimentadas pelas novas tecnologias vão e vêm, em cadências regulares, como água do mar a bater na praia. Geram picos de emoção e fúria que logo se transferem para novos alvos.

Uma dessas polémicas ocorreu entre nós em 2012, a propósito de um debate televisivo que teve como protagonista Isabel Jonet. A presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, criado em 1991, disse algo que, recordado à distância, parece mera expressão do senso comum: "Estamos a empobrecer porque vivíamos acima das nossas possibilidades. Os portugueses têm de reaprender a viver mais pobres."

Chamaram de tudo a esta aquariana de 55 anos que exerce o voluntariado há cerca de um quarto de século e hoje é presidente da Federação Europeia dos Bancos Alimentares. Foi alvo de chacota com pinceladas misóginas e houve até uma petição pública na internet para a sua destituição. Alguns dos que viriam a ser "Charlies" gabaram-se então de nunca terem contribuído para o Banco Alimentar, que auxilia mais de 400 mil pessoas carenciadas e mantém como lema "aproveitar onde sobra para distribuir onde falta". Só o bom senso parece mais difícil de distribuir...

A petição - rapidamente esquecida - recolheu 5422 assinaturas, tendo sido superada por outra em defesa de Isabel Jonet, que congregou 7038 signatários.

E se a curto prazo, aproveitando tamanha febre peticionária, houvesse uma petição destinada a lançar esta economista numa candidatura presidencial para pôr fim ao monopólio masculino da função?

 

Prós - O Banco Nacional Contra a Fome, com ela à frente, obteve em 2005 o Prémio dos Direitos Humanos da Assembleia da República, votado por unanimidade. Quem é capaz de mobilizar mais de 42 mil voluntários em duas mil lojas, numa rede de 2665 instituições de solidariedade, também é capaz de atrair votos. Em 2012 recebeu uma tremenda vaia no congresso do Bloco de Esquerda, semelhante às que os árbitros costumam escutar nos estádios, o que parece habilitá-la para Belém: afinal o Presidente da República não é o supremo árbitro do sistema?

 

Contras - José Barata Moura gravaria uma nova versão do seu velho disco Vamos Brincar à Caridadezinha, com efeitos virais garantidos no espaço virtual. Os produtores de gado bovino fariam campanha declarada contra quem se atreveu a dizer que "se não temos dinheiro para comer bifes todos os dias não podemos comer bifes todos os dias". Alguns, entre duas garfadas, lançariam uma petição para extinguir o Banco Alimentar, alegando que só existe para "perpetuar a fome", enquanto outros, mais radicais ainda, lançariam outra petição para acabar com todas as petições. 

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