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Delito de Opinião

Presidenciáveis (60)

Pedro Correia, 02.06.15

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Francisco Louçã

 

Se fosse espanhol, usava barba e rabo-de-cavalo, e diria aos seus apaniguados que sonhava "conquistar o céu", à semelhança de Pablo Iglesias, o líder-ídolo do Podemos. Mas Francisco Louçã, embora compartilhe o ideário de Iglesias, tem uma personalidade muito diferente: é mais reservado, mais calculista, mais cerebral.

Oriundo da escola trotskista, olha muito menos para o céu do que para os lados: a qualquer momento pode surgir uma picareta estalinista pronta a pôr fim a todos os sonhos de edificação de uma sociedade sem classes, onde seja suprimida a "exploração do homem pelo homem" - utopia perseguida pelo homo sapiens desde que deixou de habitar cavernas.

Este nativo de Escorpião, com 58 primaveras registadas no bilhete de identidade, é catedrático de Economia mas não ignora as lições da História: sabe que todas as revoluções devoram os seus filhos. Deixou, portanto, de ser revolucionário a tempo inteiro e foi abraçando o gradualismo reformista. Na linha dos teóricos da social-democracia clássica, como Eduard Bernstein e Karl Kautsky: vale mais uma reforma na mão do que duas revoluções a voar.

Parece que foi anteontem, mas já passaram quase duas décadas desde que fundou o Bloco de Esquerda - com Miguel Portas, Fernando Rosas e Luís Fazenda. Quatro mosqueteiros que em 1999 se propunham desarrumar o sistema partidário português e romper com certas capelinhas quase imutáveis. Quando a palavra Syriza ainda não tinha sido inventada.

Foi bom enquanto durou: o Bloco atingiu um clímax de 16 deputados, ultrapassando os comunistas, nas legislativas de 2009.

A partir daí, sempre a recuar: em 2012 Louçã cedeu o posto de comando a uma insólita liderança bicéfala que tem conduzido os bloquistas à irrelevância. Condenados a festejar vitórias gregas e espanholas enquanto somam derrotas em Portugal.

Enquanto o Bloco se estreita, Louçã vai-se espraiando. Ninguém duvida: na próxima eleição presidencial, caso seja candidato, obterá muito mais do que os magros 5,3% alcançados na corrida a Belém de 2006 que culminou com a eleição de Cavaco Silva.

É para ele que se viram muitos olhares situados na margem esquerda do espectro político português.

Avançará? Como diria Trotsky, "quem se ajoelha perante o facto consumado é incapaz de enfrentar o futuro". Ninguém imagina o ateu Louçã ajoelhado.

 

Prós - Tem inegável capacidade argumentativa e uma clareza de exposição verbal que muitos lhes invejam. Moderou as suas posições nos últimos anos: até já escreve num blogue em parceria com Bagão Félix - o socialismo revolucionário a partilhar espaço com a democracia-cristã num curioso aggiornamento à portuguesa. Teríamos em Belém um homem poupado: não gasta um cêntimo em gravatas.

 

Contras - "Eu sei o que é o sorriso de uma criança", disse um paternalista Louçã a Paulo Portas num célebre debate eleitoral - lapso infantil próprio de quem não soube escutar o sábio Diácono Remédios: não havia necessidade. Às vezes é mais difícil convencer familiares do que desconhecidos: Vítor Gaspar, seu primo direito, não votaria nele. Os seus erres muito pronunciados e cáusticos podem tornar-se irrrrritantes, dando-lhe uma imagem de arrrrrogância.

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