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Delito de Opinião

Presidenciáveis (59)

Pedro Correia, 01.06.15

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Fernando Ulrich

 

Nunca os portugueses desconfiaram tanto dos banqueiros como agora. Haveria condições para um deles concorrer à Presidência da República?

No país de Oliveira e Costa, João Rendeiro, Jardim Gonçalves e Ricardo Salgado apetece seguir o exemplo dos nossos sagazes ancestrais, que arrecadavam o pecúlio amealhado, fosse muito ou pouco, debaixo de um "colchão fofo e de penas" como aquele que Nicolau Tolentino imortalizou no seu poema satírico.

Mas convém não generalizar em excesso. Apesar de vários administradores e gestores da banca lusa terem mais a ver com um Oliveira da Figueira do que com um Barão Rothschild, alguns escaparam à voragem e até apresentam bons resultados. É o caso de Fernando Ulrich, que se tem distinguido à frente do BPI neste tempo em que um banco dar lucro se tornou notícia.

E a propósito de notícia: estamos perante um banqueiro sui generis, que começou como jornalista nos tempos heróicos do Expresso como jornal de oposição à ditadura e mesmo afastado destas lides profissionais nunca escondeu o fascínio pelo mundo da comunicação. Gosta de falar claro e não foge à polémica. Pelo contrário, por vezes vai ao encontro dela. Como quando, no auge dos apertos do cinto orçamental, lhe perguntaram se os portugueses seriam capazes de aguentar os pesadíssimos custos da crise: «O País aguenta mais austeridade? Ai aguenta, aguenta!» Ele é que não ia aguentando os impropérios que então escutou...

Vista do Conselho de Administração de um banco a realidade tem tendência para parecer mais cor-de-rosa. Precisamente o tom da fachada de um palácio em Belém que Ulrich - 62 anos, signo Touro - não se importaria de habitar, segundo garante quem conhece o seu gosto pela política. Igual ou superior à paixão que nunca perdeu pelo jornalismo.

Aguentaria ele estar longe da banca? Aguentaria, aguentaria...

 

Prós - Não teria problemas para pagar a campanha eleitoral: conseguiria boas condições de financiamento no BPI, a juros módicos e reembolsáveis em suaves prestações mensais. Bastaria o apelido Ulrich, com origem comprovada em Hamburgo, para lhe valer uma carta de recomendação da chanceler alemã e a abertura aos portugueses de uma linha especial de crédito do Banco Central Europeu. A comercialização de colchões multiplicar-se-ia no País. O símbolo da sua candidatura poderia ser um simpático leitãozinho-mealheiro, o que lhe garantiria votos na região da Bairrada.

 

Contras - A esquerda radical organizaria manifestações repudiando o "candidato usurário" e lembraria o diálogo d' O Auto da Barca do Inferno entre o onzeneiro e o anjo: "- Esse bolsão tomara todo o navio. / - Juro a Deus que vai vazio! / - Não já no teu coração." Defensor da liberalização dos despedimentos, esqueceu-se de especificar se tal medida também deve abranger o Presidente da República. Jorge Jesus não votaria nele: em 2013 o banqueiro disse aos deputados que deviam preocupar-se com "quanto ganha" o treinador do Benfica. O Papa Francisco, que desconfia de banqueiros e já disse que "São Pedro não tinha conta em nenhum banco", talvez anulasse a anunciada deslocação a Fátima em 2017.

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