Presidenciáveis (58)
Fernando Ruas
Eis a prova viva de que na política nem tudo são agruras, canseiras e desgostos, ao contrário do que alguns alegam. Basta olhar o rosto prazenteiro deste social-democrata de velha cepa para se perceber que dele emana a calma personificada. Uma impressão reforçada pela farta cabeleira que exibe, sem ali reluzir um só fio de prata.
Com este visual quase inalterado, Fernando Ruas foi galgando sucessivos patamares na vida pública: presidente da Câmara Municipal de Viseu (1989-2013), deputado, presidente da Mesa do Congresso do partido laranja, presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses. Sempre com o mesmo sorriso rasgado de quem está de boas relações com a vida.
Há dois anos, por impossibilidade legal de acumulação de novos mandatos autárquicos, deixou de figurar como líder da guarda avançada do Cavaquistão. O primeiro-ministro indicou-o em 2014 para as listas de candidatos do PSD ao Parlamento Europeu, em lugar elegível. Escassos meses antes, por mera casualidade, Ruas declarara em tom peremptório numa sessão pública: "Não conheço ninguém no PSD com o sentido de Estado de Passos Coelho."
De Viseu para Bruxelas, o salto foi enorme. Não haverá outros na carreira deste economista de 66 anos, nascido sob o signo Capricórnio e que hoje reclama ser a "voz do interior" na eurocâmara? Se fizer falta um "verdadeiro representante do País real" como candidato à Presidência da República ele chega-se à frente. Com a destreza revelada quando se integrou nos Rangers de Lamego durante o serviço militar, a disponibilidade de que deu provas no seu feudo beirão e o desassombro que não deixaria de manifestar em nova declaração pública sobre o líder do partido.
Sem perder o sorriso. Nem ganhar um cabelo branco.
Prós - Animaria Belém, instalando no vetusto edifício presidencial uma versão lisboeta do Palácio do Gelo, que durante o seu mandato autárquico começou a aquecer as noites viseenses. Os portugueses voltariam a ter alguém com sotaque da boa e velha Beira na Presidência, após dois alfacinhas e um algarvio, mantendo-se assim uma antiquíssima tradição do solo pátrio: Portugal não é o mesmo sem um beirão a mandar.
Contras - É o último resistente na política portuguesa à anacrónica moda do bigode, que até os presidentes do México e os jogadores do Benfica deixaram de usar. O apelido dele induz em erro: em vez de Ruas devia chamar-se Rotundas, Fernando Rotundas. Reza a lenda que inaugurou 127 em Viseu, a mais contornável das cidades portuguesas.