Presidenciáveis (57)
Paulo Rangel
Os políticos não se medem aos palmos. Se assim fosse, jamais Napoleão teria conquistado as pirâmides do Egipto e nunca Nicolas Sarkozy teria conquistado o coração de Carla Bruni. Paulo Rangel não parece sentir o menor incómodo em olhar os repórteres da televisão de baixo para cima: pelo contrário, a palavra sai-lhe fluente e escorreita, como se desse uma aula de Direito Administrativo ou falasse no plenário do Parlamento Europeu - só para mencionar duas funções que tem praticado com manifesto gosto.
Deste aquariano de 47 anos pode dizer-se - com e sem ironia, em simultâneo - que a política o seduz desde pequenino. Do Porto para Bruxelas, com passagem por Lisboa, onde foi deputado do PSD e presidente do grupo parlamentar no tempo em que Manuela Ferreira Leite - efémera líder do partido laranja - ainda não trocara Cavaco Silva por Alexis Tsipras como figura de referência.
Rangel não a acompanhou neste giro à esquerda, mantendo o seu liberalismo à moda antiga temperado com a atracção que nunca deixou de sentir pela modernidade: foi um dos primeiros políticos a abraçar a blogosfera, onde chegou a reunir um clube de fãs, e não se importa de trocar uma sonata de Chopin por heavy metal. Nisto difere de Sarkozy: provavelmente as baladas sussurrantes da Bruni só lhe produzem tédio.
Fez uma dieta radical que lhe deu ar de trinca-espinhas e até motivou críticas de Manuel Alegre: «Desde que emagreceu, perdeu o ar de intelectual bonacheirão e tornou-se agressivo.» Palavras que talvez tenham soado a elogio ao eurodeputado. Como dizia outro Paulo, que foi santo e pregou aos coríntios, «quando me sinto fraco então é que sou forte».
Prós - Seria o primeiro inquilino de Belém natural do Grande Porto (nasceu em Vila Nova de Gaia), rompendo um centralismo que dura há mais de um século: sete dos 18 Presidentes da República Portuguesa (Canto e Castro, Gomes da Costa, Óscar Carmona, Craveiro Lopes, Américo Thomaz, Mário Soares e Jorge Sampaio) eram ou são alfacinhas de gema. É um firme opositor do aborto ortográfico: entende que todas as consoantes, incluindo as mudas, têm direito a nascer. Talvez nenhum político nacional seja tão poliglota como este jurista, fluente em vários idiomas: com ou sem passagem por Belém, a ONU espera por ele.
Contras - Padece de dificuldades respiratórias: chegou a queixar-se diversas vezes de "asfixia democrática". É afectado por ocasionais lapsos de memória: antes de militar no PSD filiou-se no CDS mas esqueceu-se de que tinha assinado a ficha de inscrição. Perdeu contra Passos Coelho a eleição interna dos sociais-democratas em 2010: esta derrota privou-o do irrepetível desafio de governar o País na maior situação de crise financeira de que há registo em Portugal.