Presidenciáveis (52)
José Gomes Ferreira
António José de Almeida, um dos políticos mais conceituados dos anos iniciais do regime republicano, exerceu o jornalismo - a tal ponto que em 1911 chegou a fundar o vespertino República, jornal que atravessou todo o período da ditadura como o principal órgão da oposição ao salazarismo e viria a morrer, por amarga ironia, em tempos de liberdade ainda precária. O sequestro pela extrema-esquerda, em 1975, apressou-lhe o fim. E confirmou o seu último director, Raul Rêgo, como um intransigente lutador contra os extremismos de todas as cores - ele que também foi um jornalista seduzido pela política, ao ponto de ter sido ministro da Comunicação Social do I Governo Provisório, logo após o 25 de Abril, e deputado do PS durante longos anos.
Serve este intróito de enquadramento à proto-candidatura presidencial de José Gomes Ferreira, um dos mais populares jornalistas portugueses dos nossos dias, presença regular nos ecrãs televisivos a descodificar as atribuladas contas da nação, seja no Jornal da Noite seja como apresentador e entrevistador no programa Negócios da Semana.
Aqui há uns tempos surgiu até um movimento espontâneo nas redes sociais para o impulsionarem a dar o passo - às vezes muito curto - que separa o jornalismo da política. Este nativo de signo Virgem, nascido há meio século numa aldeia do concelho de Tomar, fez logo constar que não estava interessado. Mas nunca se sabe: talvez um dia a tentação seja mais forte.
Prós - Tem nome de escritor, o que ajudaria a mobilizar os intelectuais. Em contas ninguém o supera: tal como Cavaco Silva, faz questão em distinguir a boa moeda da má moeda. Pouparia muito dinheiro na campanha eleitoral: basta-lhe aparecer no ecrã a explicar o que significa "risco sistémico" ou "espiral recessiva" para os taxistas dizerem aos seus clientes: "Aquele homem da SIC é que percebe disto."
Contras - Um candidato natural à Presidência da República seria o próprio patrão da SIC, Francisco Pinto Balsemão, o que talvez suscitasse algum conflito de interesses lá para as bandas de Carnaxide. Clara de Sousa e Rodrigo Guedes de Carvalho deixariam de poder tratá-lo por tu quando o entrevistassem. Não faltam jornalistas mal sucedidos quando decidem fazer o teste das urnas - de Manuela Moura Guedes a Vicente Jorge Silva, que mal chegaram a aquecer os lugares no Parlamento, passando por Paulo Portas, que fundou e dirigiu O Independente, ou Carlos Carvalhas, que foi director do Notícias da Amadora.