Presidenciáveis (51)
João Proença
Mesmo nos tempos mais duros da austeridade, manteve abertas as vias de contacto com o Governo. E em Janeiro de 2012 não hesitou em dar luz verde às reformas laborais impostas pela tróica no âmbito do programa de assistência financeira de emergência a Portugal. Isto granjeou-lhe rasgados elogios do ministro da Economia: Álvaro Santos Pereira chamou-lhe "patriota". Mas também críticas ferozes da esquerda comunista: o Avante!, órgão oficial do PCP, associou o seu nome à palavra traição.
João Proença, nativo do signo Touro nascido há 67 anos no concelho de Belmonte, está habituado a dividir águas - mesmo dentro da área política a que pertence. Filiado no PS, foi deputado deste partido e seu dirigente nacional antes de ascender à liderança da segunda maior central sindical portuguesa, onde permaneceu como secretário-geral entre 1995 e 2013. E à frente da União Geral de Trabalhadores assinou acordos de concertação social com governos de esquerda e de direita. O mais recente valeu-lhe críticas do fundador da UGT, Torres Couto, porventura já esquecido do precedente que ele próprio abrira em 1992, quando brindou com o primeiro-ministro Cavaco Silva ao acordo sobre política de rendimentos e preços, selado com festivos cálices de Vinho do Porto.
Após o pacto de 2012 um conhecido comentador do jornalismo económico sugeriu que fosse erguida "uma estátua a João Proença". Manifesto exagero. Mas talvez este engenheiro químico, hoje retirado da frente sindical, não se importasse de morar numa casa com vista para uma estátua - a de Afonso de Albuquerque, situada a poucos metros do Palácio de Belém.
Prós - Tem reputação de jogar sempre pelo Seguro. O facto de ser conterrâneo de Pedro Álvares Cabral ajudaria a estreitar as relações luso-brasileiras. Com os anos acumulados de experiência sindical, habituado a negociações difíceis, conseguiria certamente atribuir um salário mais condigno a si próprio enquanto inquilino de Belém, poupando os portugueses à reedição das lamúrias de Cavaco Silva, que optou por duas pensões de aposentação, cuja soma é superior aos 6523 euros atribuídos ao Presidente da República como remuneração mensal.
Contras - A profissão de engenheiro químico parece pouco propícia aos ares de Belém: Maria de Lourdes Pintasilgo, única candidata presidencial com esta formação académica, recolheu apenas 7,4% dos votos em 1986. Os filiados na CGTP não votariam nele: Arménio Carlos acusa-o de ter "lesado os trabalhadores com os acordos que assinou". João, sendo o nome masculino mais popular em Portugal, tem muito mais conotações monárquicas do que republicanas: houve seis reis com esse nome e apenas um Presidente, o remoto almirante João Canto e Castro, que permaneceu menos de dez meses ao leme do Estado, entre 16 de Dezembro de 1918 e 5 de Outubro de 1919 (e ainda por cima era monárquico).