Presidenciáveis (44)
Fernando Rosas
Gosta de dizer o que pensa, embora nem sempre acerte no que diz. Como ficou bem patente nas críticas apressadas que fez na televisão ao recém-eleito Papa Francisco por ter colaborado com a ditadura argentina - acusação sem o menor fundamento, ditada pela sua fervorosa fé anticlerical.
Fernando Rosas, historiador e professor universitário, representa o lado plus bon vivant da esquerda chique portuguesa. Na juventude, este nativo de signo Carneiro militou no Partido Comunista. Depois, com um bigode farfalhudo, levantou o punho em defesa do MRPP, "verdadeira voz da classe operária". Findo o flirt com o maoísmo em versão tuga, viria a integrar em 1999 o quarteto de fundadores do Bloco de Esquerda - paradigma da efémera modernidade fin de siècle da qual se mantém, aos 69 anos, como referência patriarcal. Já sem fumar cachimbo mas mantendo os suspensórios que lhe conferem um vago parentesco cénico com o seu amigo Mário Soares.
Prós - Adora uma boa polémica, sem meias tintas: no auge do consulado socrático chamou ao então primeiro-ministro "um jovem lobo sem ideologia, puro produto do aparelho [socialista]". É um historiador rigoroso, como têm comprovado as suas obras relacionadas com o Estado Novo. Sobrinho do último ministro das Finanças de Salazar, aprendeu pelo menos uma lição com o ditador: a arte de saber durar.
Contras - O seu discurso torrencial perde-se por vezes em circunlóquios como este: «À esquerda ninguém chega a bom porto ignorando as outras energias sociais e políticas em tensão.» Leva o laicismo tão a peito que faz questão de nunca ser visto a menos de 50 metros de um cardeal. Já concorreu a Belém, em 2001: com apenas 3%, só conseguiu superar Garcia Pereira - algo que até o Rato Mickey conseguiria.