Presidenciáveis (17)
Carlos Carvalhas
O PCP, o mais conservador dos partidos portugueses, mantém-se fiel à tradição: terá um candidato próprio ao Palácio de Belém. A "convergência das forças de esquerda", uma das frases mais pronunciadas na língua de pau da Soeiro Pereira Gomes, jamais contará com o Partido Comunista, que vê "direita" em tudo quanto mexe e mantém uma rivalidade implacável com o Bloco, não só nas legislativas mas também nas presidenciais. Repare-se: desde que existe o BE, os candidatos presidenciais comunistas nunca mais desistiram à boca das urnas.
Mas quem poderá ser o candidato comunista? O melhor é dar crédito à matemática. Nunca o PCP conseguiu tão bom resultado num escrutínio presidencial como no ano em que apresentou Carlos Carvalhas. Foi em 1991: Carvalhas obteve 635 mil votos, correspondentes a 12,5% do eleitorado. Muito melhor do que os pífios 223 mil votos (5,1%) recolhidos dez anos mais tarde pelo candidato António Abreu, de quem já quase ninguém se lembra. Ou dos 7% alcançados em 2011 pelo obscuro Francisco Lopes.
Porque não voltar a apresentar Carvalhas? O ex-secretário-geral - 73 anos, signo Escorpião - está disponível, continua a ser uma presença regular nos ecrãs televisivos e mantém as credenciais mínimas de ortodoxia partidária que fazem dele um homem de confiança da actual direcção do partido. Ao contrário do que acontece com Carvalho da Silva.
Prós - É economista, trunfo importante em tempo de grave crise financeira e económica. Foi o homem que Álvaro Cunhal escolheu para seu sucessor, o que fará dele para sempre uma espécie de príncipe ungido pelo carismático monarca vermelho aos olhos dos militantes comunistas. Compensa em simpatia natural, mesclada de timidez, o que lhe falta em carisma.
Contras - Os seus discursos têm um efeito entorpecente: conseguem adormecer qualquer plateia. É uma solução de passado e não de futuro, o que até num partido como o PCP não deixa de ser um óbice. E Carvalhas não rivaliza com Jerónimo de Sousa em campanha eleitoral: para jogar à bisca com eles e dançar o tango com elas, não há como o actual líder comunista.