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Delito de Opinião

Presidenciais (29)

Pedro Correia, 18.01.16

Os candidatos da esquerda clássica - mesmo a que surge aureolada de "tempo novo" - procuram mobilizar o voto dos descontentes na eleição de domingo, tendo Marcelo Rebelo de Sousa por alvo. Acontece que, exceptuando aqueles eleitores que o fazem por estrito dever partidário, essa mobilização está condenada ao fracasso. Porque Marcelo tem índices de rejeição baixíssimos, como todas as sondagens demonstram.

Contra o ex-presidente do PSD, apelar ao voto negativo - em inflamados discursos que começam por reconhecer logo a derrota a 24 de Janeiro, invocando uma mirífica "segunda volta" como se fosse o Santo Graal - é tarefa inútil.

O problema de Marcelo - talvez o mais popular político português do momento - não é a rejeição: é a indiferença de muitos eleitores, desde logo os que nunca votaram ou os que há muito deixaram de votar. A palavra "abstenção", que já foi uma espécie de anátema na nossa vida colectiva, quando a política contaminava todo o quotidiano português, reabilitou-se e hoje é quase motivo de orgulho cívico.

Mas esse não é um problema só de Marcelo - é um problema mais vasto do nosso regime político. Cresce por cá, como por quase toda a Europa, o desapego dos cidadãos pela política e vai esmorecendo de escrutínio em escrutínio a mobilização por esse valor sem preço que é o sufrágio universal. Para muitos dos nossos contemporâneos, tanto faz viver em democracia ou em ditadura.

As mensagens inflamadas devem virar-se contra esta "anorexia democrática". Evitando rótulos anquilosados e todo o jargão de seita que só servem para afugentar o cidadão comum. A renovação da política passa desde logo pela renovação da linguagem. Alguns adversários de Marcelo acusam-no de se ter servido dos meios de comunicação para se aproximar das pessoas, como se isso fosse um defeito. Deviam antes interrogar-se por que motivo, com largas dezenas de políticos a surgirem diariamente na televisão, ano após ano, apenas ele alcançou esse efeito de proximidade.

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