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Delito de Opinião

Presidenciais (28)

Pedro Correia, 17.01.16

Lamento que o jornalismo abdique cada vez com mais frequência de um olhar autónomo sobre os protagonistas da cena política portuguesa. Isto tem vindo a ser patente nesta campanha eleitoral. Reparem em boa parte das peças televisivas sobre os candidatos no terreno: parecem ser feitas no mesmo molde. Tanto faz o candidato ter em torno de si cem ou dez ou cinco pessoas, o registo não foge da mais estrita banalidade: um plano fechado, com o candidato no centro e dois ou três rostos anónimos a espreitarem-lhe por cima do ombro, e o registo de inócuas declarações do visado sobre um tema qualquer em foco nas manchetes desse dia. Mesmo que esse tema nada tenha a ver com os poderes do Presidente da República definidos na Constituição.

 

Estas peças produzem efeitos miméticos: contagiam outras, acabando por tornar-se todas semelhantes, configurando um jornalismo preguiçoso e reverente, que abdica de um olhar crítico sobre os agentes políticos e a mensagem - tantas vezes desprovida de conteúdo - que estes pretendem passar.

Raras vezes assistimos ao desassombro que se impõe no discurso de um repórter: "Este candidato não atraiu ninguém"; "passou totalmente despercebido", "só havia escassos membros da máquina partidária nesta acção de campanha"; "apenas esteve no terreno enquanto havia câmaras de televisão e microfones da rádio em seu redor."

Raras vezes existe sequer um plano mudo, mostrando uma plateia vazia ou uma rua despovoada porque ninguém acorreu afinal ao encontro dos candidatos, que pretendem usar as câmara de televisão como mero veículo de propaganda.

 

Tanto se fala sobre a crise do jornalismo. Há muitos factores a explicá-la. Mas o primeiro acontece logo aqui.

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