Presidenciais (21)
Debate Edgar Silva-Marisa Matias
Haverá fronteiras geográficas para a defesa dos direitos humanos? Quem assistisse ao debate televisivo de ontem na RTP entre Edgar Silva e Marisa Matias seria eventualmente levado a suscitar esta questão perante a aparente contradição do candidato comunista, tão lesto a fazer a defesa desses direitos em Portugal e tão relutante em expressar-se da mesma forma quando estão em causa países dirigidos por "partidos irmãos" do PCP. A Coreia do Norte, por exemplo.
Parece não haver tema tão incómodo para um comunista português como este, suscitado pelo moderador do debate, João Adelino Faria, numa pergunta simples, directa e clara a Edgar Silva:
- Considera a Coreia do Norte uma democracia?
- Pergunta-me se eu a considero uma democracia?
- ...Ou uma ditadura.
- Eu acho que o Presidente da República tem o dever, em relação a cada um dos países, e a cada um dos Estados, de ter com todos os países e Estados uma relação de cooperação e solidariedade, independentemente da apreciação subjectiva do Chefe do Estado sobre as políticas...
- Mas qual é a sua apreciação sobre a Coreia do Norte? É uma ditadura ou uma democracia?
- Eu reconheço que em vários países do mundo existem situações de insuficiente respeito pelos direitos humanos...
- Não me respondeu.
- Não vejo que esse seja um privilégio da Coreia do Norte.
O membro do Comité Central do PCP não saía disto. Era a vez de o jornalista conceder a palavra à eurodeputada do Bloco. Marisa Matias não hesitou: "Eu respondo de forma directa. Considero a Coreia do Norte uma ditadura que ataca o seu povo."
Este debate esteve muito centrado na tentativa de encontrar diferenças entre os dois candidatos. Não havia necessidade de procurar mais: estava encontrada. E não era nada lisonjeira para Edgar Silva.
Vencedora: Marisa Matias
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Frases do debate:
Edgar - «Tenho um compromisso com o mundo do trabalho.»
Marisa - «É preciso uma Presidente da República que se bata pelo País.»
Edgar - «Dissolveria a Assembleia [se os deputados confirmassem em segunda votação parlamentar um orçamento vetado pelo Chefe do Estado]?»
Marisa - «Desculpe... não é sério.»
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O melhor:
- A propósito da viabilização do orçamento rectificativo, Edgar Silva levou Marisa Matias a irritar-se ao insinuar que a candidata tem um conhecimento insuficiente dos poderes do Chefe do Estado definidos na Constituição.
- A eurodeputada disse o que muitos portugueses pensam quando criticou a intervenção no Banif: "Este orçamento rectificativo de três mil milhões de euros equivale exactamente ao corte que tivemos no Serviço Nacional de Saúde."
O pior:
- "Eu conheço bem os poderes do Presidente da República", justificou-se Marisa, como se tivesse sido apanhada em transgressão. Não havia necessidade.
- O antigo sacerdote estava mal informado quando assegurou que a sua oponente, enquanto membro da eurocâmara, aprovou a intervenção militar na Líbia. "Eu aconselhava-o a ver as actas do Parlamento Europeu. Porque eu votei contra e foi voto nominal", retorquiu-lhe a dirigente bloquista,