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Delito de Opinião

Presidenciais (2)

Pedro Correia, 08.01.21

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UMA COISA EM FORMA DE ASSIM

As assessorias de comunicação e de imagem, por vezes, estragam mais do que ajudam. Repare-se em Ana Gomes: mal começou a campanha presidencial mudou por completo. Deixou de ser aquela estridente justiceira que surgia de dedo em riste nas pantalhas, num allegro molto vivace, para se recriar num pianissimo nada correspondente ao estilo a que nos habituou. Suavizou a voz, amaneirou-se, ganhou contornos de tia pronta a beber o chá das cinco em Seteais. Retirou os pontos de exclamação das frases, substituindo-os por reticências. 

Imagino os assessores a imporem-lhe o novo estilo: «Tem de conquistar os votos moderados, tem de ganhar terreno ao centro.» Cumprem o papel que lhes cabe: formatam e plastificam candidatos em função das sondagens e de pesquisas internas junto de segmentos do eleitorado.

Mas com ela não resulta: sai uma coisa em forma de assim, para usar a saborosa expressão imortalizada por Alexandre O'Neill. Isso ficou ainda mais evidente no debate de ontem à noite na TVI 24 com Tiago Mayan Gonçalves, em que o candidato liberal - muito menos rodado nestas lides políticas e mediáticas - suplantou sem esforço a sua adversária.

 

Falando em ziguezagues, sempre à defesa, Ana Gomes esteve irreconhecível. E respondeu de forma atabalhoada às perguntas da moderadora, Carla Moita. Nomeadamente a propósito da progressão galopante do novo coronavírus, que nas últimas 72 horas causou mais 30 mil infectados em Portugal.

Confrontada com o tema, a candidata filiada no PS respondeu assim: «Eu não... não queria ter a responsabilidade que hoje os governantes têm e acho que é difícil e confio neles, naturalmente no pressuposto que eles estão a ouvir os especialistas... os cientistas... e tomarão as medidas que forem melhores e estou disponível para... para considerar o que é que é necessário para fazer do nosso... lado como candidatos a estas eleições.»

 

Tive de ouvir duas vezes para acreditar. Uma candidata à Presidência da República afirma solenemente na televisão que não queria ter responsabilidades nesta hora difícil de combate à pandemia - verdadeira prioridade nacional. Então candidata-se para quê ao cargo supremo do Estado português?

A pergunta ficou por fazer no debate. Mas faço-a eu aqui.

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