Presidenciais (18)
ALTOS E BAIXOS
POR CIMA
MARCELO REBELO DE SOUSA
Atinge o pódio dos melhores resultados eleitorais de sempre num Presidente da República em Portugal. Só ultrapassado pelos 70,4% da reeleição de Mário Soares em 1991 e pelos 61,2% de Ramalho Eanes em 1976. Não é proeza para menosprezar: com mais 122 mil votos contabilizados e mais 8,7% em comparação com a votação de há cinco anos, reforça a legitimidade política e prepara-se para assumir um papel ainda mais determinante no xadrez institucional português.
ANDRÉ VENTURA
Começou por inventar um partido, depois reinventou-se a si próprio como candidato presidencial. Com meio milhão de votos, sai como um dos triunfadores da noite: nunca a direita mais radical havia chegado tão longe nas urnas. Esteve a escassa distância do segundo lugar global, mas atingiu-o na maioria dos distritos e destrona o PCP no Alentejo. Este escrutínio equipara-o a meio PSD e liquida o CDS: sai da marginalidade e entra no sistema que tanto diz abominar no seu discurso populista.
TIAGO MAYAN GONÇALVES
Talvez a maior surpresa: um perfeito desconhecido para os portugueses, ombreou com Marcelo e levou Ventura ao tapete nos debates televisivos. Protagonizando sem complexos uma direita liberal que há muito integra a cena política europeia mas só agora irrompe - com o atraso do costume - no xadrez partidário nacional. Foi recompensado: faz subir de 1,3% para 3,2% a votação da IL nas legislativas de 2019, passando de 67 mil para 134 mil votos. E já vale mais de 4% em Lisboa e Porto.
ANTÓNIO COSTA
O PS optou pela falta de comparência nestas eleições: foi uma dor de cabeça a menos para o primeiro-ministro, que assiste à vitória do candidato a quem concedeu apoio pessoal, com palavras inequívocas, e faz reduzir à expressão mínima a facção socialista que preconiza uma fusão a prazo com o BE. Essa facção foi a votos e ficou claro o que vale: 13%. Boas notícias para o chefe do Governo, que precisa muito mais de Marcelo Rebelo de Sousa do que de um Pedro Nuno Santos.
POR BAIXO
ANA GOMES
Colou-se ao argumentário do BE, em irmandade siamesa com Marisa Matias, procurando sempre captar mais votos radicais do que moderados. Incapaz de atrair socialistas, sem apoios de peso no Governo além de Pedro Nuno, fica muito abaixo de Manuel Alegre em 2006 (-8%) ou Sampaio da Nóvoa em 2016 (-10%). E atirou-se a Costa num ressabiado discurso da noite eleitoral. Resta-lhe o fraco consolo de ter roubado a Marisa o título de "mulher mais votada de sempre em presidenciais".
MARISA MATIAS
Permanece o mistério: porque arriscou recandidatar-se quando a sua área política já estava preenchida por Ana Gomes e a comparação com 2016 lhe seria fatalmente desfavorável? Neste escrutínio tomba de 10,1% para 3,9% e perde 300 mil votos - do quase meio milhão anterior para os 164 mil actuais. Tornando delirante o risonho discurso da líder bloquista, Catarina Martins, que ontem à noite parecia desembarcada da Terra do Nunca. Cheira a princípio do fim do Bloco.
JOÃO FERREIRA
Cumpriu um fraquíssimo tirocínio para a liderança do PCP. Em percentagem, obtém o segundo pior registo de sempre dos comunistas, superando por três décimas o péssimo resultado de Edgar Silva em 2016. Mas recolhe ainda menos votos, ficando-se pelos 180 mil. Ultrapassado por Ventura em Évora, Beja e Setúbal, sai pessoalmente muito fragilizado desta contenda, onde só se destacou por ser o candidato com campanha mais cara. Ainda conseguirá suceder a Jerónimo de Sousa?
RUI RIO
Vê a sua liderança ainda mais fragilizada e comporta-se como derrotado. Isto ficou ontem patente, quando celebrava o triunfo de Marcelo enquanto a sua linguagem corporal e a sua face carrancuda desmentiam tudo quanto dizia. Desancou comentadores, como se concorresse contra eles, e voltou a reclamar para o PSD um papel exclusivo ao centro - continuando a abrir todo o flanco direito ao aventureiro Ventura, de quem se tornou refém simbólico. Ainda não percebeu o que se passa.