Presidenciais (14)
A CULPA FOI MINHA
Não sei se alguém chegou antes de mim, mas eu terei sido dos primeiros. Em Maio de 2015, numa série de textos aqui publicados e que acabaram por ser reunidos em livro, lancei no DELITO a pré-candidatura de Ana Gomes ao Palácio de Belém. Nessa prosa que lhe dediquei, enumerava prós e contras da embaixadora na corrida à Presidência, concretizada cinco anos depois.
Alguns pontos favoráveis: «Seria a primeira chefe do Estado português do sexo feminino - e a primeira em regime republicano - desde a morte prematura da Rainha D. Maria II, em 1853. Xanana, de quem se tornou amiga, decerto não se importaria de viajar de propósito a Portugal para abrilhantar os comícios de campanha da ex-embaixadora portuguesa em Jacarta.»
Alguns pontos desfavoráveis: «A palavra voa-lhe por vezes mais veloz que o pensamento, como quando se apressou a invocar causas "sociais" para o morticínio no Charlie Hebdo. Alguns socialistas, que nunca integraram o seu clube de fãs, assumiriam sem hesitar qualquer outra opção de voto. Os cristais de Belém sofreriam eventuais danos irreparáveis nos momentos em que a voz dela se elevasse aos patamares característicos de Bianca Castafiore.»
Podem elogiar-me ou criticar-me à vontade: assumo toda a responsabilidade pelo que escrevi. Entretanto, permitam-me destacar esta frase premonitória: «Alguns socialistas, que nunca integraram o seu clube de fãs, assumiriam sem hesitar qualquer outra opção de voto.»
Assenta que nem uma luva a quase todas as actuais figuras gradas do PS - começando, naturalmente, por António Costa.