Prende, tortura e mata
O déspota venezuelano prometeu e cumpriu: anunciou «um banho de sangue» no país se os eleitores não o reelegessem para as funções que exerce desde 2013 no Palácio de Miraflores, onde sucedeu a Hugo Chávez, o finado que de vez em quando o visita em forma de passarinho.
A 18 de Julho, dez dias antes do escrutínio presidencial, o antigo condutor de autocarros declarou numa das suas habituais arengas públicas em que aparece rodeado de guarda-costas: «O destino da Venezuela depende da nossa [dele] vitória em 28 de Julho se não quiserem que a Venezuela caia num banho de sangue.»
Ou ele ou o caos: já receava o veredicto das urnas. Que aconteceu na data marcada, desencadeando a mega-fraude eleitoral no narco-Estado que já foi o mais próspero país da América do Sul e é hoje o mais miserável após um quarto de século sob o jugo do chavismo-madurismo.
Desacreditado aos olhos do mundo inteiro, sem nenhum país democrático a validar a monumental chapelada, o tirano desatou a sequestrar militantes da oposição, acumulados nas prisões de alta segurança de Tocorón e Tocuyito - Caxias e Peniche lá do sítio. Rasgou de vez as garantias constitucionais, impôs na prática um estado de sítio. Exigindo «castigo máximo» a quem ousa fazer-lhe frente, com a vergonhosa cumplicidade de pseudo-juízes que ele transformou em paus-mandados. Orgulha-se da onda repressiva em curso, revelando que em três dias o país registou dois mil novos presos políticos, sob a alçada da tenebrosa SEBIN, a Pide venezuelana. E decreta de antemão a sentença para todos eles: «Castigo máximo!»
Mas não há só prisões arbitrárias e torturas sistemáticas, denunciadas pela Amnistia Internacional e pelo Observatório dos Direitos Humanos. Houve também 19 mortos confirmados nos quatro dias subsequentes à farsa eleitoral. Todos foram baleados. O mais velho tinha 56 anos. O mais novo, apenas 15.
Fraude nas urnas, presos de consciência, assassínios por delito de opinião: eis tudo quanto o PCP sempre disse condenar e afinal aplaude entusiasticamente, em obscenas loas ao sátrapa de Caracas. Posição miserável, em contraste com a dos comunistas venezuelanos, agora também eles perseguidos.
Observo tudo isto interrogando-me se não subsiste ninguém com um pingo de vergonha na sede da Rua Soeiro Pereira Gomes, transformada em clube de fãs do maior torcionário actual sul-americano. Que se orgulha de oprimir o próprio povo enquanto vai cavaqueando com passarinhos e recebe a bênção dos piores abutres.