Pré-Visões do Euro 2016 - Portugal (1)
Quando a qualificação começou, o onze inicial de Portugal poderia ser adivinhado pela maioria. Era um onze experiente mas pouco rodado. Paulo Bento é uma criatura de hábitos e gosta de utilizar os jogadores que lhe deram garantias no passado. Como se viu no início, isso não chegou. Uma derrota em casa com a Albânia fez saltar Paulo Bento e chegar Fernando Santos. Na altura (como o indiquei aqui no blogue), achei que era uma má escolha. Não tanto pelas qualidades técnicas mas essencialmente pelo castigo de 8 jogos que pairava sobre Santos. Dei a minha opinião - que reitero agora - que um seleccionador não pode estar fora do banco por demasiado tempo, dado que o seu trabalho enquanto treinador é limitado. Felizmente o castigo foi reduzido para dois jogos e os estragos foram assim mais limitados.
Ao chegar ao cargo, Fernando Santos começou por surpreender ao chamar jogadores há muito afastados: Tiago, Ricardo Carvalho e Ricardo Quaresma regressaram, apesar de não serem exactamente as caras da renovação. Na altura também não gostei: entendia que a selecção necessitava de uma renovação e chamar jogadores com 37 anos de idade não ajudava. Talvez resolvesse o problema no momento mas não ajudava o futuro. Ainda não estou convencido, mas estou mais aberto à estratégia de Santos para a selecção. Alguns destes jogadores tinham sido proscritos por Bento, outros simplesmente ignorados. É no entanto difícil dizer que os resultados não melhoraram.
A primeira prioridade de Santos foi dar consistência defensiva à equipa. A sequência de vitórias por um golo de diferença - e frequentemente ao cair do pano - indica-o claramente. Santos procurou dar a organização à sua equipa que as suas selecções gregas possuíam. Isto terá tido dois objectivos: por um lado reduzir os riscos de oportunidades adversárias devido a lapsos de concentração (ainda e sempre um ponto fraco português); por outro fazer descer a equipa, criando mais espaço à frente para Ronaldo poder utilizar a sua velocidade e ganhar a mobilidade de que precisa. Foi uma fórmula que deu resultados, com Ronaldo a ser responsável por 5 dos 11 golos (em 8 partidas) de Portugal, que venceu as restantes 7 partidas após a derrota no primeiro jogo.
Durante a qualificação, Fernando Santos também foi lentamente ajustando as suas convocatórias de forma a integrar alguns dos jogadores mais jovens - ou pelo menos nunca chamados com regularidade no passado. No seu consulado jogadores como Cédric Soares, Adrien Silva, Danilo Pereira, Bernardo Silva, Raphaël Guerreiro ou João Mário começaram a ser chamados com regularidade, enquanto que alguns outros foram recebendo oportunidades de se mostrar. Isto demonstra vontade de integrar a geração que atingiu este ano a final do europeu de sub-21 e que terá de ser o futuro da selecção quando Ronaldo começar a decair.
Este último é precisamente o aspecto mais crítico para Fernando Santos (tal como o seria para qualquer outro seleccionador): a importância de Cristiano Ronaldo. Isto é de certa forma inevitável quando se tem um jogador desta qualidade: não existisse Messi e Ronaldo seria provavelmente reconhecido como o melhor jogador do mundo da última década e provavelmente um dos 10 melhores de sempre. O outro lado da moeda é que a equipa joga constantemente para Ronaldo e os adversários sabem como o neutralizar: negando espaços para onde possa correr e colocando cortinas de jogadores que se compensem mutuamente, sabendo que Portugal não tem muitas outras soluções.
Perante este cenário, o principal desafio de Fernando Santos é procurar alternativas e minimizar esta dependência. Na ausência de um ponta de lança de qualidade (Éder é apenas um aríete), Danny tem jogado como uma espécie de falso nove, muito móvel e criativo e capaz de abrir espaços para outros jogadores. Infelizmente isto significa que alguns dos jogadores do meio campo terão de assumir as despesas de marcar golos, vindo de trás e aproveitando espaços abertos na área pela mobilidade dos atacantes. Moutinho marcou dois importantes golos na qualificação mas mais jogadores terão de contribuir.
É assim difícil adivinhar qual a equipa que Fernando Santos levará ao europeu. Há jogadores certos: Ronaldo, Nani, Moutinho, Pepe, etc. Há outros que terão de estar aptos fisicamente - Coentrão é a maior dúvida - e mais uns quantos que procurarão encontrar o seu espaço. A trinco haverá 3 jogadores possíveis: Danilo, Tiago e William (este último continua sem me convencer, apesar de ser claro o potencial). No centro da defesa estou pessoalmente dividido entre a experiência de Bruno Alves ou a promessa de Paulo Oliveira. Na lateral direita preferiria não ver Bosingwa na equipa (considero-o um enorme risco) e a combinação de Cédric com João Pereira/Nélson Semedo/Vieirinha seria (para mim) mais atractiva. No meio campo seria importante ver Rúben Neves e André Gomes a seguir viagem (serão fundamentais no futuro próximo) mas a dúvida continua a existir em relação ao ataque.
Aquilo que seria o mais importante, no entanto, seria ver Ronaldo descansar um pouco antes da Primavera. Uma vez que não gosta de o fazer, o ideal seria uma lesão que lhe provocasse uma paragem de 2 meses entre Janeiro e Março e o poupasse um pouco. Nos últimos torneios chegou sempre esgotado e, com 31 anos, o corpo cada vez aguenta menos. As chances de Portugal só aumentariam com tal situação.