Pré-Visões do Euro 2016 - a qualificação
Quando a expansão do número de equipas no Europeu foi anunciada a maior parte dos comentadores manifestaram-se contra a mesma. Eu fui dos que pensou que a qualificação se tornaria aborrecida, um passeio para as equipas mais fortes, e a fase final seria inicialmente incómoda, por possibilitar alguns massacres das equipas mais fracas que se apurassem. Em relação a este último ponto ainda estará tudo em aberto, mas a qualificação, essa, foi tudo menos aborrecida.
Não é difícil ver as consequências de uma qualificação inesperadamente aberta. Apesar de os dois primeiros de cada grupo se qualificarem automaticamente, juntamente com o melhor terceiro, e de os restantes terceiros classificados disputarem um play-off, algumas equipas relativamente fortes foram ficando pelo caminho. O nome mais sonante foi obviamente a Holanda, mas poderíamos também apontar a Grécia ou a Dinamarca.
As razões poderão ser difíceis de identificar. Cada caso será diferente e não é complicado verificar que se a Grécia e Holanda colapsaram completamente, a Dinamarca falhou a qualificação por relativamente pouco. A Holanda, apesar da surpresa, pagou o preço de viver num período inter-geracional onde os grandes jogadores do passado recente começam a ser excessivamente veteranos e os emergentes são ainda demasiado poucos e jovens. O Mundial foi o resultado de um estilo muito pouco holandês, onde van Gaal se virou para o pragmatismo, fechou a defesa a sete chaves e viveu de Robben na forma da sua vida. Resultou no espaço de um mês, mas não seria sustentável, especialmente com Hiddink, o seu sucessor, a reverter para o 4-3-3 tradicionalmente holandês mas para o qual não tem intépretes da qualidade do passado.
A Grécia falhou devido a também um render da guarda, uma aposta falhada em Claudio Ranieri e diversos outros problemas internos. A partir do momento em que ficou óbvio que falhariam, acabaram por atirar a toalha e cair para o último lugar do grupo. Já a Dinamarca, com poucos jogadores de qualidade, acabou por perder devido a mediania. Analisando a equipa, este resultado não é de espantar.
Onde as surpresas surgiram foi em vários resultados individuais pelos grupos. A Alemanha perdeu com Polónia e Irlanda e viu-se em apuros com algumas outras equipas. A Espanha perdeu com a Eslováquia. A Islândia qualificou-se directamente, Gales também e a Albânia idem. Por um lado este resultados reflectem uma das frases mais conhecidas do futebol mas que nunca foi tão verdade quanto agora: já não há jogos fáceis.
As equipas sabem hoje organizar-se defensivamente - é este o aspecto mais simples de treinar - e compreendem o valor do contra-ataque. A disseminação das transmissões televisivas (inclusivamente por internet), permitem que qualquer nova evolução táctica esteja imediatamente disponível para outros e nenhumas são mais fáceis de compreender que as defensivas. Além disso, o desenvolvimento das técnicas de condicionamento físico permitem que até equipas mais fracas consigam aguentar o ritmo de um jogo de futebol de alto nível ao longo de 90 minutos. Por fim, as longas épocas futebolíticas fazem com que os melhores jogadores se resguardem, sabendo que numa qualificação um resultado de 1-0 tem o mesmo valor na maior parte das vezes que um resultado de 5-0.
Não devemos no entanto menosprezar o efeito da motivação e da complacência. As equipas mais pequenas viram neste alargamento a possibilidade de se qualificarem para o torneio, o que lhes deu mais motivação para tentar ir buscar pontos aos grandes. Isto tornou-se ainda mais evidentes porquanto as melhores equipas sabiam que podiam orçamentar para pontos perdidos aqui e acolá, seguras no conhecimento que o resto da qualificação lhes permitiria recuperar qualquer terreno perdido. Além disso, alguns seleccionadores trataram os jogos da qualificação como uma espécie de pariculares-plus, onde podiam experimentar sabendo que os adversários se esforçariam mais do que em jogos irrelevantes.
Tudo isto levou à qualificação mais interessante das últimas décadas. É perfeitamente possível que algumas destas equipas mais fracas acabem por fazer o papel de bombos da festa na fase final, mas do seu ponto de vista é legítimo imaginar que essa é uma consequência que não os preocupa: é necessário estar no torneio para poder perder. Com o torneio a ter lugar num país facilmente acessível, com boas infraestruturas e muitas actividades paralelas possíveis, o Euro 2016 "arrisca-se" a ser dos mais coloridos de sempre.
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