Portas de regresso ao jornalismo
Detesto perder tempo com tudólogos que nada percebem sobre coisa alguma e começam cada frase por «eu acho que»: abundam nas televisões e fujo deles a sete pés. Abomino os trombeteiros do apocalipse que não perdem uma oportunidade para atemorizar e deprimir os compatriotas, reproduzindo em antena os piores rumores que circulam sobre o nosso futuro colectivo: trocam factos por "cenários", pintados em cores bem negras, convictos de que isto lhes garante gordas "audiências".
O paleio é imenso, mas as alternativas são mais escassas do que parecem: muitos destes palpiteiros limitam-se a copiar o que outros dizem, numa espécie de confraria do plágio mútuo consentido. Devemos ser criteriosos nas escolhas para nos mantermos realmente bem informados, preservarmos o quociente de inteligência que nos coube em sorte e ampliarmos o prazo de validade da nossa sanidade mental. Isto leva-me, por estes dias, a reservar o direito de admissão em termos ainda mais severos: não é qualquer um que me entra em casa a impingir mercadoria contrafeita.
Daí valorizar tanto as excepções à regra. Destacando, desde logo, as intervenções de Paulo Portas no Jornal das 8 da TVI, agora com uma rubrica intitulada "Estado da Emergência", que costuma funcionar como remate dos telediários. Vale a pena ouvi-lo: ficamos sempre a aprender alguma coisa com ele a propósito desta pandemia sanitária à escala global que ameaça ter efeitos económicos e sociais devastadores. Com base factual, argumentos serenos e a atitude didáctica de quem procura persuadir pela razão em vez de procurar "transmitir emoções", como está hoje em voga.
Percebe-se que há ali investigação séria e pesquisa junto de fontes credíveis a caucionar o que debita em dez minutos diários. No fundo, é um Paulo Portas de regresso ao jornalismo. Mostrando a muitos jornalistas como devem proceder para difundir informação fundamentada e rigorosa.
Parece fácil, mas não é. Fácil é espalhar boatos e semear o alarmismo nas redes sociais, aterrorizando os incautos. A isto temos que dizer basta. E aprender, em definitivo, a separar o trigo do joio, distinguindo informação de lixo. É um acto de elementar higiene cívica.