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Delito de Opinião

Portas de regresso ao jornalismo

Pedro Correia, 07.04.20

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Detesto perder tempo com tudólogos que nada percebem sobre coisa alguma e começam cada frase por «eu acho que»: abundam nas televisões e fujo deles a sete pés. Abomino os trombeteiros do apocalipse que não perdem uma oportunidade para atemorizar e deprimir os compatriotas, reproduzindo em antena os piores rumores que circulam sobre o nosso futuro colectivo: trocam factos por "cenários", pintados em cores bem negras, convictos de que isto lhes garante gordas "audiências".

O paleio é imenso, mas as alternativas são mais escassas do que parecem: muitos destes palpiteiros limitam-se a copiar o que outros dizem, numa espécie de confraria do plágio mútuo consentido. Devemos ser criteriosos nas escolhas para nos mantermos realmente bem informados, preservarmos o quociente de inteligência que nos coube em sorte e ampliarmos o prazo de validade da nossa sanidade mental. Isto leva-me, por estes dias, a reservar o direito de admissão em termos ainda mais severos: não é qualquer um que me entra em casa a impingir mercadoria contrafeita.

Daí valorizar tanto as excepções à regra. Destacando, desde logo, as intervenções de Paulo Portas no Jornal das 8 da TVI, agora com uma rubrica intitulada "Estado da Emergência", que costuma funcionar como remate dos telediários. Vale a pena ouvi-lo: ficamos sempre a aprender alguma coisa com ele a propósito desta pandemia sanitária à escala global que ameaça ter efeitos económicos e sociais devastadores. Com base factual, argumentos serenos e a atitude didáctica de quem procura persuadir pela razão em vez de procurar "transmitir emoções", como está hoje em voga. 

Percebe-se que há ali investigação séria e pesquisa junto de fontes credíveis a caucionar o que debita em dez minutos diários. No fundo, é um Paulo Portas de regresso ao jornalismo. Mostrando a muitos jornalistas como devem proceder para difundir informação fundamentada e rigorosa.

Parece fácil, mas não é. Fácil é espalhar boatos e semear o alarmismo nas redes sociais, aterrorizando os incautos. A isto temos que dizer basta. E aprender, em definitivo, a separar o trigo do joio, distinguindo informação de lixo. É um acto de elementar higiene cívica.

2 comentários

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    Anónimo 07.04.2020

    sim, é difícil de suportar os telejornais hoje em dia. quando se pede racionalidade máxima dão-nos lições de bom comportamento muitas vezes até contraditórios, reportagens em frente a lares de idosos e música clássica. mais um aspecto a ter em conta para os historiadores do futuro quando analisarem esta distopia em que nos metemos, porventura até o mais importante, se a crise de saúde pública se revelar (como todos esperamos) menos grave do que neste momento aparenta ser.

    quanto a Jorge Buescu, creio que é um caso singular. antes de isto dar para o torto apareceu na televisão a dizer que estava optimista e que o bicho não era tão perigoso, enganou-se e toca de meter dados no excel, qual máquina de fazer chouriços, e sacar daí umas curvas bem perigosas e uns tsunamis que vão engolir médicos.

    o que é engraçado e curioso nesta crise é que no caso português, como todos os defeitos e mais alguns que lhes quisermos encontrar, os líderes políticos, Marcelo, Costa e Rio, surgiram sempre com um discurso calmo e ponderado e, apesar de tudo, actuaram cedo e relativamente bem. agora é esperar que não se transformem em ditadores. veremos se a distopia dura 2 meses ou 20 anos...
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