Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Ponteiros trocados

Pedro Correia, 12.11.21

9399680_plG66.jpeg

 

Mudou a hora. Passamos a reger-nos pela chamada "hora de Inverno". Mas Inverno porquê se ainda estamos em pleno Outono? E mudar a hora porquê se agora começa a anoitecer às 17.30, o que contribui para acentuar um clima depressivo que a própria época do ano já propicia?

Segundo os especialistas que estiveram na origem desta directiva da Comissão Europeia - que Portugal vem seguindo após um período de incerteza - a medida permite às famílias poupar cerca de 5% em energia eléctrica, havendo um benefício para as empresas em cerca de 3%. São as habituais contas dos teóricos que se regem apenas pelos princípios gerais da contabilidade sem saber aplicá-la a situações concretas: o que eventualmente se poupa em consumo energético logo se gasta em consumo de ansiolíticos e antidepressivos, consultas psiquiátricas e absentismo laboral.

Um estudo realizado em Espanha - país que alinha o seu "horário de Inverno" pelo da Alemanha, como se não houvesse quase dois mil quilómetros de distância entre Madrid e Berlim - permite concluir que 56% dos trabalhadores sofre «algum transtorno» com este atraso dos ponteiros do relógio. Uns queixam-se de insónias, outros de falta de concentração. Uma clara maioria acusa sintomas de acrescido cansaço, com bruscas alterações de humor.

Há aqui um problema de fundo: a progressiva falta de correspondência entre o período de trabalho regular e a hora solar. Cada vez se trabalha mais tempo em horário nocturno real. Entretanto, nada mais absurdo do que esta permanente obsessão dos burocratas europeus em gerir ínfimas parcelas do nosso quotidiano com directizes traçadas a régua e esquadro no sossego dos seus gabinetes alcatifados, indiferentes ao pulsar da rua. O mesmo é dizer: indiferentes ao pulsar da vida.

54 comentários

Comentar post

Pág. 1/2