Políticos no divã - 7
(À entrada do gabinete) - Lamento mas temos que suspender estas sessões, doutor.
- Quer suspender as sessões?!
- Sim, pelo menos durante seis meses.
- Mas porquê logo agora, que isto estava a correr tão bem?
- Não posso. Com o aumento da Contribuição Extraordinária de Solidariedade fiquei com um défice nas minhas contas.
- Outra vez com a obsessão do défice?!
- Não me vai citar outra vez o Jorge Sampaio, pois não?
- Eheheh (a provocá-la) E dizer-lhe que há mais vida para além do défice?
- (ameaçando sair) Se continua com essas piquenas provocações, eu...
- Venha cá, não se zangue (com um gesto largo convida-a a deitar-se no divã)
- (desconfiada entra e senta-se à beirinha) Prefiro ficar sentada.
- Deitada descontrai-se mais.
- (nervosa) Ai isso é que não.
- (trespassando-a com o olhar) Não quer deitar-se porquê?
- Não me apetece.
- Não me tente enganar.
(baixa os olhos, morde o lábio, não responde)
- Não quer deitar-se porque associa o divã à cama e na cama agora não se sente bem porque voltaram os terrores nocturnos. É isso?
- (quase inaudível) Sim.
- (de um lado para o outro, mãos atrás das costas) Curioso, muito curioso.
- (voltando-se para a paciente) Vá, não se reprima. Desabafe!
- (hesitante, num fio de voz) Voltei a sonhar com o monstro.
- O velho monstro?! Mas isso já nós analisámos vezes sem conta, pelo menos desde o tempo em que a senhora foi ministra das Finanças! Pensei que o problema estava sanado.
- É que agora há uma diferença.
- Qual?
- O monstro quer-me a mim!
- (espantado) Como assim? Arrebata-a com ideias libidinosas, assim como se fosse a presa do King Kong?
- (ofendida, ergue-se de um salto) Mas por quem me toma? Sabe muito bem que para mim essas coisas só em família e com vista à procriação!!
- Então não estou a entender.
- (à beira de um ataque de nervos) O que o monstro quer é levar-me a reforma TODA!!!